Falta de vagas já ocorria antes da Covid-19

31 de março de 2021 às 11:08

Tenente Dirceu Cardoso Gon&cce
O coronav&iacute;rus que, com sua pot&ecirc;ncia, j&aacute; matou tanta gente e cujos limites ainda s&atilde;o desconhecidos em raz&atilde;o das muta&ccedil;&otilde;es, veio para quebrar paradigmas, for&ccedil;ar solu&ccedil;&otilde;es que durante anos foram negligenciadas por governos, governantes e administradores e, tamb&eacute;m, para desmentir justificativas oficiais. No n&iacute;vel de ataque que hoje sofremos, formaram-se extensas filas de pacientes j&aacute; diagnosticados &agrave; espera de uma vaga de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) ou at&eacute; no leito hospitalar simples. Muitos morreram e outros morrer&atilde;o sem ter conseguido socorro e isso, hoje, escandaliza a sociedade. M&eacute;dicos sentem-se na inc&ocirc;moda situa&ccedil;&atilde;o de, pela falta de vagas, terem de decidir quem vai morrer e quem vai ter a chance de&nbsp; sobreviver. Esse quadro indigesto tem levado governantes a correrem c om provid&ecirc;ncias para a compra ou loca&ccedil;&atilde;o de equipamentos e a oferta de novas de vagas intensivas. Mas o quadro continua cr&iacute;tico.<br /> <br /> Embora os levantamentos digam que a estrutura intensiva est&aacute; ao redor de 90% de ocupa&ccedil;&atilde;o, o que &eacute; cr&iacute;tico, um olhar mais atento e aritm&eacute;tico sobre o quadro aponta pelo menos uma impropriedade. 90% de ocupa&ccedil;&atilde;o sugerem ainda restar 10% das vagas. Mas, estranhamente, nessas mesmas localidades, h&aacute; fila de espera para a admiss&atilde;o &agrave;s UTIs. A conta ou os procedimentos est&atilde;o incorretos, com certeza. Se existissem os 10%, n&atilde;o haveria fila...<br /> <br /> Retrocedendo para antes de mar&ccedil;o do ano passado &ndash; quando a Covid-19 foi identificada no Brasil &ndash; verifica-se que a falta de vagas para interna&ccedil;&atilde;o de pacientes tanto em leito simples&nbsp; quanto em UTI j&aacute; era um problema grave. Muitos acometidos de infartos, AVCs e outros males que exigem socorro imediato j&aacute; perdiam a vida porque n&atilde;o eram atendidos no tempo indicado. Mas, apesar das queixas dos familiares, a repercuss&atilde;o era baixa, pois a anomalia j&aacute; constitu&iacute;a uma nefasta rotina. E fato rotineiro n&atilde;o produz not&iacute;cia, nem repercute.<br /> <br /> H&aacute; muitos anos, o sistema de sa&uacute;de p&uacute;blica brasileiro &eacute; ineficiente, apesar das elevadas somas de recursos que consome. Nunca se observou a demanda com a &oacute;tica no socorro do paciente. O sistema de sa&uacute;de, infelizmente, serve para sustentar o discurso pol&iacute;tico, mas n&atilde;o recebe a devida contrapartida e nem a organiza&ccedil;&atilde;o mais adequada para que o dinheiro p&uacute;blico ali investido, em vez de bonitas instala&ccedil;&otilde;es ou at&eacute; o desvio para outros fins menos nobres, seja carreado para a tarefa principal de diminuir o sofrimento e preservar a vida da clientela.<br /> <br /> A pandemia chegou ao ponto que hoje denuncia a cr&ocirc;nica falta de vagas. &Eacute; preciso que esse infausto recado seja prontamente atendido e &ndash; mais que isso &ndash; que, quando o coronav&iacute;rus for embora, os equipamentos e servi&ccedil;os sejam mantidos para socorrer os pacientes de outras patologias. Aqueles que tradicionalmente morrem na portaria ou corredores das emerg&ecirc;ncias &agrave; espera das vagas inexistentes. Os srs. governantes e respons&aacute;veis pela sa&uacute;de p&uacute;blica n&atilde;o devem se esquecer que desde o dia 5 de outubro de 1988 &ndash; quando foi promulgada a Constitui&ccedil;&atilde;o, &ldquo;a sa&uacute;de &eacute; direito de todos e dever do Estado&rdquo; &ndash; art. 196.<br /> <br /> Deixar de atender ao carente de socorro de sa&uacute;de, al&eacute;m de desumano, &eacute; inconstitucional...<br /> &nbsp;<br /> <img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" width="60" hspace="3" height="81" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Por <i><b>Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</b></i> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - aspomilpm@terra.com.br