O Brasil, os poderes e os incendiários

14 de abril de 2021 às 15:34

Tenente Dirceu Cardoso Gon&cce
&ldquo;Impeachment&rdquo; &eacute; o processo que se monta no Congresso Nacional para afastamento do presidente da Rep&uacute;blica, ministros do Supremo Tribunal Federal ou outros altos servidores acusados de cometer grave delito ou m&aacute; conduta no exerc&iacute;cio de suas fun&ccedil;&otilde;es. O processo busca a comprova&ccedil;&atilde;o da pr&aacute;tica de crime comum, crime de responsabilidade, abuso de poder, desrespeito &agrave;s normas constitucionais ou viola&ccedil;&atilde;o de direitos p&eacute;treos previstos na Constitui&ccedil;&atilde;o e, se encontrados, afasta o acusado. No Brasil j&aacute; tivemos os afastamentos dos presidentes Dilma Rousseff (2016), Fernando Collor (1992) e Carlos Luz e Caf&eacute; Filho, em 1955, estes acusados de compactuar com a tentativa de golpe contra a posse do j&aacute; eleito presidente Juscelino Kubistchek, que poderia levar o pa&iacute;s a uma guerra civil.<br /> <br /> A figura jur&iacute;dica do impeachment &ndash; ou destitui&ccedil;&atilde;o &ndash; &eacute; admitida pela Constitui&ccedil;&atilde;o. Infelizmente seu uso pol&iacute;tico tornou-se pr&aacute;tica. O denunciante sabe que seu pedido dificilmente prospera e os presidentes da C&acirc;mara dos Deputados e do Senado &ndash; como administradores da pauta de vota&ccedil;&otilde;es &ndash; costumam engavetar os requerimentos, o que lhes confere poderes para negociar politicamente. O ideal seria que, apresentado o pedido, este fosse para a pauta e liquidasse o assunto de imediato, prosperando o pedido que tivesse fundamento ou, em caso negativo, criasse a massa jur&iacute;dica suficiente para o denunciado processar o autor por denuncia&ccedil;&atilde;o caluniosa. Isso seria o rem&eacute;dio para a crise sem fim criada pela falta de deslinde.<br /> <br /> Existem, pendentes na C&acirc;mara dos Deputados, 111 pedidos de afastamento do presidente Jair Bolsonaro. Ele &eacute; recordista, mas a farra &eacute; antiga. Dilma sofreu 68 pedidos, Lula 37, Michel temer 31, Fernando Collor 29, Fernando Henrique 24 e Itamar Franco 4. No Senado, somam 9 os pedidos de afastamento de ministros do STF. Cinco de Alexandre Moraes, dois de Gilmar Mendes e um de Carmem Lucia e outro de Edson Fachin. Em janeiro, o ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre, arquivou 57 pedidos de afastamento de ministros do STF e 2 do procurador-geral da Rep&uacute;blica, apresentados em 2019 e 2020 e jamais apreciados.<br /> <br /> Mais grave que os pedidos de impeachment n&atilde;o votados &eacute; a judicializa&ccedil;&atilde;o da pol&iacute;tica. O Judici&aacute;rio &eacute; provocado por partidos e lideran&ccedil;as oposicionistas e acaba por invadir a &aacute;rea de atribui&ccedil;&otilde;es dos outros poderes, como ocorreu agora, quando o ministro Luiz Roberto Barroso determinou monocraticamente que o Senado abra a CPI da Covid-19 para apurar omiss&otilde;es do presidente da Rep&uacute;blica. Bolsonaro reage cobrando a tramita&ccedil;&atilde;o dos pedidos de afastamento dos ministros da suprema corte. Senadores divergem e prev&ecirc;em o recrudescimento da crise ao envolver governadores.<br /> <br /> Embora, por defini&ccedil;&atilde;o, o Judici&aacute;rio seja o detentor da ultima palavra, &eacute; preciso cuidado. O mundo pol&iacute;tico n&atilde;o pode (ou pelo menos n&atilde;o deve) colocar nas costas de ministros, desembargadores e magistrados a solu&ccedil;&atilde;o das quest&otilde;es que n&atilde;o conseguem resolver politicamente. Os julgadores, tamb&eacute;m, devem acautelar-se e apenas dirimir d&uacute;vidas, sem no entanto determinar como devem proceder os outros poderes da Rep&uacute;blica. Importante observar&nbsp; o artigo 2&ordm; da Constitui&ccedil;&atilde;o, que estatui Legislativo, Executivo e Judici&aacute;rio como Poderes da Uni&atilde;o, independentes e harm&ocirc;nicos entre si.<br /> <br /> Tudo o que se fizer e puder estabelecer o confronto entre os poderes constitu&iacute;dos &eacute; nocivo &agrave; Na&ccedil;&atilde;o e deve ser evitado. No lugar de afastamentos, denuncias e incompreens&otilde;es, precisamos de trabalho, paz, conc&oacute;rdia e dos poderes funcionando no estrito limite de suas atribui&ccedil;&otilde;es, sem nova&ccedil;&atilde;o, estrelismo ou disputas. H&aacute; que se fazer tudo para evitar a a&ccedil;&atilde;o dos incendi&aacute;rios. Eles podem destruir o pa&iacute;s e fazer o povo sofrer... <br /> <br /> <img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" width="60" hspace="3" height="81" align="left" alt="" /><br /> <br /> Por <i><b>Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</b></i> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - aspomilpm@terra.com.br&nbsp;&nbsp; <br />