Uma mensagem para o Dia do Trabalhador

29 de abril de 2021 às 16:53

Lino Rampazzo
Num importante documento do Conc&iacute;lio Vaticano II (1962-1965) lemos: &ldquo;As alegrias e as esperan&ccedil;as, as tristezas e as ang&uacute;stias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, s&atilde;o tamb&eacute;m as alegrias e as esperan&ccedil;as, as tristezas e as ang&uacute;stias dos disc&iacute;pulos de Cristo&rdquo;.<br /> <br /> Podemos aplicar e refletir estas palavras no Dia do Trabalhador de 2021, perguntando: quais s&atilde;o as alegrias, as esperan&ccedil;as, as tristezas e as ang&uacute;stias do trabalhador nesta situa&ccedil;&atilde;o de pandemia?<br /> <br /> A cada dia o notici&aacute;rio fala mais das tristezas e das ang&uacute;stias do que das alegrias dos trabalhadores. De fato, a pandemia intensificou profundamente a crise de muitos no Brasil.<br /> <br /> Um dos graves problemas na &aacute;rea trabalhista diz respeito ao desemprego. A situa&ccedil;&atilde;o, neste aspecto, j&aacute; era ruim mesmo antes da crise da pandemia, de modo que seus impactos no pa&iacute;s tendem a ser ainda mais dram&aacute;ticos.<br /> <br /> Essa situa&ccedil;&atilde;o seria mais facilmente contorn&aacute;vel, caso a maioria da popula&ccedil;&atilde;o estivesse em empregos formais. No entanto, o grau de formaliza&ccedil;&atilde;o das ocupa&ccedil;&otilde;es no Brasil vem caindo continuamente desde 2015, com destaque para a perda dos empregos no ramo industrial. Sem o dinamismo desse setor, uma massa de trabalhadores foi se deslocando para setores de menor produtividade e menores sal&aacute;rios, especialmente no com&eacute;rcio e servi&ccedil;os em geral, os quais serviram como v&aacute;lvula de escape &agrave; deteriora&ccedil;&atilde;o e queda do emprego formal. Fala-se, ent&atilde;o, de &ldquo;sucateamento dos postos de trabalhos&rdquo;, &ldquo;informaliza&ccedil;&atilde;o&rdquo;, &ldquo;enfraquecimento dos direitos trabalhistas&rdquo;, &ldquo;uberiza&ccedil;&atilde;o&rdquo; etc. <br /> &nbsp;<br /> Diante dessa crise, particularmente a do desemprego, o Papa Francisco assim se expressou recentemente: &ldquo;Uma fam&iacute;lia onde falte o trabalho est&aacute; mais exposta a dificuldades, tens&otilde;es, fraturas e at&eacute; mesmo &agrave; desesperada e desesperadora tenta&ccedil;&atilde;o da dissolu&ccedil;&atilde;o. Como poderemos falar da dignidade humana sem nos empenharmos para que todos, e cada um, tenham a possibilidade de um digno sustento?&rdquo;.<br /> &nbsp;<br /> Estas palavras est&atilde;o no documento &ldquo;Patris corde&rdquo;, que significa &ldquo;com cora&ccedil;&atilde;o de Pai&rdquo;, publicado no dia 8 de dezembro de 2020, por ocasi&atilde;o do 150&deg; anivers&aacute;rio da Declara&ccedil;&atilde;o de S&atilde;o Jos&eacute; como padroeiro universal da Igreja. E S&atilde;o. Jos&eacute;, al&eacute;m de ter sido o &ldquo;amado Pai&rdquo; adotivo de Jesus e esposo de Maria Sant&iacute;ssima, foi trabalhador, e trabalhador que sofreu!<br /> &nbsp;<br /> Saiu com Maria de Nazar&eacute; para Bel&eacute;m para o recenseamento determinado pelo imperador C&eacute;sar Augusto. L&aacute; Maria deu &agrave; luz Jesus. Onde? Num est&aacute;bulo &ldquo;porque n&atilde;o havia lugar para eles na hospedaria&rdquo; (Lc 2,7). Certamente Jos&eacute; n&atilde;o tinha dinheiro para pagar a hospedaria.<br /> &nbsp;<br /> Com 40 dias de vida Jesus foi apresentado no templo. E Jos&eacute; ofereceu a contribui&ccedil;&atilde;o dos pobres: &ldquo;dois pombinhos&rdquo; (Lc 2,24). Depois ele fugiu para o Egito, porque Herodes queria matar o menino. E Jos&eacute;, com Maria e o menino Jesus, sofreu na dif&iacute;cil situa&ccedil;&atilde;o de refugiado.<br /> &nbsp;<br /> Em seguida voltou para Nazar&eacute;, mantendo a fam&iacute;lia com seu trabalho de carpinteiro (Mt 13,55). Ele &eacute; o pai trabalhador! Sobre isso, assim se expressou o Papa Francisco no documento citado: &ldquo;S&atilde;o Jos&eacute; era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua fam&iacute;lia. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o p&atilde;o fruto do pr&oacute;prio trabalho&rdquo;.<br /> <br /> Neste nosso tempo em que o trabalho parece ter voltado a constituir uma urgente quest&atilde;o social e o desemprego atinge por vezes n&iacute;veis impressionantes, mesmo em pa&iacute;ses onde se experimentou durante v&aacute;rias d&eacute;cadas um certo bem-estar, &eacute; necess&aacute;rio tomar renovada consci&ecirc;ncia do significado do trabalho que dignifica e do qual o nosso Santo &eacute; patrono e exemplo. O trabalho torna-se participa&ccedil;&atilde;o na pr&oacute;pria obra da salva&ccedil;&atilde;o, oportunidade para apressar a vinda do Reino, desenvolver as pr&oacute;prias potencialidades e qualidades, colocando-as ao servi&ccedil;o da sociedade e da comunh&atilde;o; o trabalho torna-se uma oportunidade de realiza&ccedil;&atilde;o n&atilde;o s&oacute; para o pr&oacute;prio trabalhador, mas sobretudo para aquele n&uacute;cleo origin&aacute;rio da sociedade que &eacute; a fam&iacute;lia&rdquo;.<br /> &nbsp;<br /> Que S&atilde;o Jos&eacute; Oper&aacute;rio, cuja mem&oacute;ria &eacute; celebrada pelos cat&oacute;licos no dia 1&deg; de maio, Dia do Trabalhador, nos ensine a dar um sentido ao trabalho e com sua intercess&atilde;o ajude a Igreja e a sociedade inteira a valorizar os trabalhadores reconhecendo e atribuindo-lhes a dignidade que merecem. Dessa maneira, teremos &ldquo;esperan&ccedil;a e alegria&rdquo;.<br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_lino-rampazzo_doutor-em-teologia.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Por <i><b>Lino Rampazzo</b></i> &eacute; Doutor em Teologia e Coordenador do Curso de Teologia da Faculdade Can&ccedil;&atilde;o Nova