Presidencialismo falido

16 de maio de 2021 às 11:06

Márcio Coimbra
Depois de dois impeachments, tudo indica que o modelo de presidencialismo brasileiro apresenta s&eacute;rios sinais de fadiga. Os movimentos d&uacute;bios de Jair Bolsonaro, que colocam em xeque seu comprometimento com a democracia, acenderam um sinal de alerta. N&atilde;o estamos falando apenas de um desgaste do presidencialismo de coaliz&atilde;o, mas de um questionamento do modelo presidencialista em si, que atrasa e desgasta o pa&iacute;s. <br /> <br /> Das mais importantes democracias conhecidas, somente os Estados Unidos foram capazes de transformar o presidencialismo em um sistema saud&aacute;vel e capaz de gerar governos est&aacute;veis. Na Europa, Canad&aacute;, Austr&aacute;lia, Nova Zel&acirc;ndia, Israel e incont&aacute;veis outros pa&iacute;ses a decis&atilde;o foi optar pelo parlamentarismo, um sistema que apesar das falhas consegue entregar democracias mais firmes e burocracias capazes de gerar pol&iacute;ticas p&uacute;blicas e modelos de desenvolvimento mais est&aacute;veis. <br /> <br /> Na Am&eacute;rica Latina, o Brasil seguiu o fluxo de seus vizinhos, optando pelo sistema presidencial. Ref&eacute;m de um modelo anacr&ocirc;nico, a regi&atilde;o viveu uma sucess&atilde;o de golpes e revolu&ccedil;&otilde;es ao longo de sua hist&oacute;ria, atrasando seu desenvolvimento e a sedimenta&ccedil;&atilde;o de democracias est&aacute;veis e perenes. Variando entre guinadas para a direita ou esquerda, a regi&atilde;o jamais encontrou um caminho de desenvolvimento permanente. <br /> <br /> A necessidade constante de mudan&ccedil;as, oposi&ccedil;&otilde;es ferrenhas, nem sempre democr&aacute;ticas, que costumam golpear abaixo da linha da cintura, usando as For&ccedil;as Armadas como instrumento de manuten&ccedil;&atilde;o no poder, jogou a Am&eacute;rica Latina em aventuras pouco inspiradoras. A democracia sempre foi a principal v&iacute;tima dos salvadores da p&aacute;tria que vendiam solu&ccedil;&otilde;es f&aacute;ceis para a regi&atilde;o, que se tornou para&iacute;so para autocracias. <br /> <br /> O Brasil n&atilde;o ficou de fora desta realidade e por mais que o presidencialismo seja um instrumento falido e ultrapassado, ainda &eacute; enxergado como uma alternativa vi&aacute;vel de redu&ccedil;&atilde;o de nossas mazelas. Pobre pa&iacute;s que busca um salvador a cada quatro anos e ao cometer um erro de avalia&ccedil;&atilde;o precisa seguir em mart&iacute;rio at&eacute; o pr&oacute;ximo ciclo eleitoral. O presidencialismo brasileiro se tornou compra de agonia &agrave; prazo. <br /> <br /> O impeachment, por mais que seja instrumento leg&iacute;timo e constitucional, &eacute; processo demorado e doloroso, que gera fissuras no tecido institucional. Os mecanismos de defesa do Estado precisam ser capazes de entregar, de forma constitucional, solu&ccedil;&otilde;es mais r&aacute;pidas e efetivas contra governantes ineptos, incapazes ou temer&aacute;rios. O parlamentarismo entrega estas respostas, de forma leg&iacute;tima, est&aacute;vel e constitucional, aumentando a responsabilidade do eleitor e capaz de reorganizar o sistema quando entra em colapso. <br /> <br /> Nenhum pa&iacute;s pode ser ref&eacute;m da gest&atilde;o temer&aacute;ria de um governo, especialmente em tempos de emerg&ecirc;ncia, como este que vivemos, ou de colapso econ&ocirc;mico por simples incapacidade de gest&atilde;o, como j&aacute; vimos no passado. O Estado brasileiro precisa se tornar mais leve, moderno e &aacute;gil, capaz de entregar respostas para a popula&ccedil;&atilde;o e reciclar-se cada vez que se mostra incapaz de agir. A fal&ecirc;ncia de nosso presidencialismo talvez seja uma de nossas piores mazelas institucionais. <br /> <br /> Por <i><b>M&aacute;rcio Coimbra</b></i> &eacute; coordenador da p&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o em Rela&ccedil;&otilde;es Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Bras&iacute;lia, Cientista Pol&iacute;tico, mestre em A&ccedil;&atilde;o Pol&iacute;tica pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal