O agro procura um pacificador

16 de maio de 2021 às 11:08

José Luiz Tejon Megido
Os humores no Brasil andam exaltados. Chacrinha, o velho guerreiro, dizia: &ldquo;Quem n&atilde;o se comunica, se estrumbica&rdquo;. Aproveito o estrumbica, que significa se complica, e dizer: pa&iacute;s onde s&oacute; tem briga, todo mundo se estrumbica.<br /> <br /> Estamos em uma fase complicada. Acabei de formar 40 alunos internacionais, nesta semana. Jovens da &Aacute;frica, &Aacute;sia, Europa, de todos os continentes. Um master science em food agribusiness management. Gest&atilde;o de agroneg&oacute;cio e alimentos.<br /> <br /> Esses jovens chegam para estudar sobre o Brasil e v&ecirc;m com uma percep&ccedil;&atilde;o muito ruim, de que produzimos carne desmatando a Amaz&ocirc;nia, de que nossa agricultura &eacute; intensiva e que esgota os recursos naturais; uma p&eacute;ssima imagem. Depois de tr&ecirc;s meses com aulas ministradas por professores e especialistas do Brasil, eles escrevem nas suas apresenta&ccedil;&otilde;es de avalia&ccedil;&atilde;o finais: &ldquo;o governo brasileiro e a pol&iacute;tica roubam a boa imagem das realidades brasileiras. O Brasil &eacute; muito melhor do que parece&rdquo;.<br /> <br /> A ilegalidade de 5% na Amaz&ocirc;nia acaba sendo usada por vozes brasileiras como &ldquo;voc&ecirc;s n&atilde;o t&ecirc;m nada que se meter nisso, pois j&aacute; desmataram toda a Europa&rdquo;. Quer dizer, n&atilde;o comunicamos, afrontamos os clientes.<br /> <br /> Um assunto velho, algu&eacute;m disse no exterior: &ldquo;Florestas a&iacute;, agricultura aqui&rdquo;, e logo respondemos ao ataque generalizando como se o mundo l&aacute; fora estivesse contra n&oacute;s. Supermercados fazem restri&ccedil;&otilde;es a produtos do Brasil pelas barreiras de reputa&ccedil;&atilde;o. Logo esbravejamos aqui que isso n&atilde;o passa de concorrentes inimigos para nos prejudicar.<br /> <br /> O agroneg&oacute;cio precisa de um pacificador. Lideran&ccedil;as que n&atilde;o adorem a ideia da briga de rua, dos palavr&otilde;es e do fazer a guerra.<br /> <br /> Falar mal da China, hoje nosso maior parceiro, que tem sustentado nossa economia nas importa&ccedil;&otilde;es e, ainda mais, de quem dependemos de princ&iacute;pios ativos para vacina e tamb&eacute;m defensivos agr&iacute;colas, &eacute; no m&iacute;nimo uma burrice comercial astron&ocirc;mica. Falar mal da Europa, nosso segundo maior cliente, &eacute; outra imprud&ecirc;ncia.<br /> <br /> Dentro do pa&iacute;s, diversas entidades n&atilde;o se entendem e tamb&eacute;m brigam entre si, colocando pol&iacute;tica e ideologias no molho da separa&ccedil;&atilde;o. Quando as palavras &ldquo;clima&rdquo; e &ldquo;meio ambiente&rdquo; s&atilde;o pronunciadas em v&atilde;o e todos se esquecem de falar do plano ABC +, o sonho de consumo de qualquer consumidor de qualquer parte do planeta. E temos aqui. O Brasil precisa de pacifica&ccedil;&atilde;o. <br /> <br /> Aos que querem o com&eacute;rcio, que tapem os ouvidos aos briguentos como Ulisses, na Odisseia, voltando para casa depois da Guerra de Tr&oacute;ia o fez para n&atilde;o ouvir o canto das sereias. No caso dos briguentos brasileiros, n&atilde;o seria exatamente o canto, e sim berros e palavr&otilde;es de esp&iacute;ritos zombeteiros e mal-educados.<br /> <br /> Dentro do agroneg&oacute;cio do pa&iacute;s, a fruticultura que vai in natura ao mundo precisa ser protegida. A nossa reputa&ccedil;&atilde;o como marca Brasil ser&aacute; sagrada para que um consumidor do mundo saboreie um cacho das nossas uvas, um mam&atilde;o com lim&atilde;o, coma uma banana, cuja embalagem j&aacute; nasce com ela e esparrame pelos seus l&aacute;bios uma laranja de mesa, a melancia, al&eacute;m de morder suavemente as nossas ma&ccedil;&atilde;s, o mel&atilde;o e os frutos do sert&atilde;o.<br /> <br /> A sensorialidade das frutas brasileiras se tornar&aacute; realidade a partir da imagem assegurada da nossa origem. A Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) e seu presidente, Guilherme Coelho, t&ecirc;m plena consci&ecirc;ncia dessa miss&atilde;o.<br /> <br /> Ao Brasil, a paz. Que Alysson Paolinelli receba o Nobel da Paz, com sua obra da agricultura tropical, e que possa simbolizar a pacifica&ccedil;&atilde;o, pois precisamos de um pacificador. A tortura mental nos destr&oacute;i e cria obst&aacute;culos comerciais. Como o poeta Lu&iacute;s de Cam&otilde;es escreveu e repito: &ldquo;Quem faz o com&eacute;rcio, n&atilde;o faz a guerra&rdquo;.<br /> <br /> E como os jovens alunos internacionais afirmam: &ldquo;o Brasil &eacute; muito melhor do que parece&rdquo;.<br /> <br /> Por <i><b>Jos&eacute; Luiz Tejon Megido</b></i>, mestre em Educa&ccedil;&atilde;o Arte e Hist&oacute;ria da Cultura pelo Mackenzie, doutor em Educa&ccedil;&atilde;o pela UDE/Uruguai e membro do Conselho Cient&iacute;fico Agro Sustent&aacute;vel (CCAS)