Incompetência do MEC pode levar à derrocada das universidades públicas

12 de junho de 2021 às 13:16

César Silva
As incertezas decorrentes da gest&atilde;o temer&aacute;ria do atual governo est&atilde;o por levar a rede de universidades e institutos federais ao colapso administrativo. Esse desmonte faz parte de um projeto maior que representa a destrui&ccedil;&atilde;o de grande parcela do servi&ccedil;o p&uacute;blico oferecido pelo Estado - que pode culminar com o fechamento de diversas unidades pelo Brasil. &Eacute; o caso da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). <br /> <br /> A morte anunciada da UFRJ, por&eacute;m, &eacute; s&oacute; a ponta do iceberg diante dos sucessivos cortes que essas institui&ccedil;&otilde;es v&ecirc;m sofrendo. No ano passado a redu&ccedil;&atilde;o foi de 8,64% em rela&ccedil;&atilde;o ao ano anterior: passou de R$ 6,06 bilh&otilde;es em 2019 para R$ 5,54 bilh&otilde;es em 2020. Este ano o corte foi operado em dois momentos. <br /> <br /> O Projeto de Lei Or&ccedil;ament&aacute;ria Anual (PLOA) j&aacute; previa encolhimento da verba de custeio em 18,2%, com valor equivalente a R$ 1, o5 bilh&atilde;o. O segundo corte foi no contexto do relat&oacute;rio setorial de Educa&ccedil;&atilde;o da Comiss&atilde;o Mista de Or&ccedil;amento, que enxugou mais R$ 121, 9 milh&otilde;es. O valor total chega a quase R$ 1,2 bilh&atilde;o. Os n&uacute;meros s&atilde;o da Associa&ccedil;&atilde;o dos Dirigentes das Institui&ccedil;&otilde;es Federais de Ensino Superior (Andifes) <br /> <br /> Responsabilizar a pandemia pela situa&ccedil;&atilde;o ca&oacute;tica das universidades p&uacute;blicas n&atilde;o se justifica. Desde o in&iacute;cio da gest&atilde;o Bolsonaro, com o ent&atilde;o ministro Ricardo Velez &agrave; frente da pasta, ficou evidente o desconhecimento da equipe gestora com os tr&acirc;mites envolvidos na administra&ccedil;&atilde;o de um or&ccedil;amento p&uacute;blico. A falta de recursos para elementos b&aacute;sicos de opera&ccedil;&atilde;o teve in&iacute;cio neste momento. <br /> <br /> Com a chegada de um economista para substituir o ministro fil&oacute;sofo, era esperado um plano de efici&ecirc;ncia para a viabilizar o funcionamento saud&aacute;vel das unidades escolares existentes. Por&eacute;m, a postura de Abraham Weintraub foi mais de &quot;dono&quot; das unidades e n&atilde;o de &quot;respons&aacute;vel&quot;, no momento em que o conceito de responsabilidade, oposto ao da inconsequ&ecirc;ncia, era mais necess&aacute;rio. Vimos apenas cr&iacute;ticas inver&iacute;dicas baseadas em temas ideol&oacute;gicos - al&eacute;m de teorias conspirat&oacute;rias absurdas - e pouca a&ccedil;&atilde;o para contribuir com as necessidades or&ccedil;ament&aacute;rias e de capacita&ccedil;&atilde;o dos estudantes. <br /> <br /> Sem pol&iacute;tica p&uacute;blica, as medidas administrativas foram sempre b&eacute;licas e desastrosas. E resultaram em aprofundamento dos desgastes entre os gestores das unidades p&uacute;blicas e o governo. Cabe aqui um par&ecirc;ntese, pois o mesmo aconteceu com as institui&ccedil;&otilde;es privadas de ensino superior, sempre ignoradas e praticamente abandonadas durante a crise sanit&aacute;ria. <br /> <br /> Assim, o MEC passou a ser representado por um grande paquiderme obeso se deslocando em uma galeria de cristais. Eventos ocorreram, mas sempre com atrasos, ru&iacute;dos e preju&iacute;zos para a sociedade. Foram quatro trocas de ministro em 2 anos de governo e, na &uacute;ltima substitui&ccedil;&atilde;o, assumiu a pasta um professor com forte prop&oacute;sito ideol&oacute;gico e com a mesma postura subserviente a uma presid&ecirc;ncia sem propostas, salvo se manter onde est&aacute;. <br /> <br /> &Eacute; fato que na gest&atilde;o p&uacute;blica o que vale &eacute; ter or&ccedil;amento, mesmo em per&iacute;odo de escassez de dinheiro. Embora o or&ccedil;amento p&iacute;fio exista, n&atilde;o foi sequer executado, dada a falta de conhecimento t&eacute;cnico para sua aplica&ccedil;&atilde;o. Para se ter uma ideia, esse desconhecimento incrustado nas secretarias e nos &oacute;rg&atilde;os vinculados ao MEC provocou distribui&ccedil;&atilde;o equivocada de recursos em itens de financiamento estudantil como o Fundo de Manuten&ccedil;&atilde;o e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valoriza&ccedil;&atilde;o do Magist&eacute;rio (Fundeb). <br /> <br /> O estrago est&aacute; feito, o cen&aacute;rio &eacute; alarmante e as perspectivas n&atilde;o s&atilde;o boas. Permitir que a UFRJ feche as portas, n&atilde;o importa o motivo, &eacute; o mesmo que jogar no lixo os mais de cem anos de hist&oacute;ria da mais antiga universidade federal do pa&iacute;s. Mas quando se trata de incompet&ecirc;ncia, marcada por discursos ideol&oacute;gicos agressivos, tudo pode piorar. &Eacute; um retrocesso para uma na&ccedil;&atilde;o, que s&oacute; se mant&eacute;m forte com cultura, educa&ccedil;&atilde;o e democracia. <br /> <br /> Por <b><i>C&eacute;sar Silva</i></b> &eacute; diretor Presidente da Funda&ccedil;&atilde;o de Apoio &agrave; Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de S&atilde;o Paulo - FATEC-SP h&aacute; mais de 30 anos. Foi vice-diretor superintendente do Centro Paula Souza. &Eacute; formado em Administra&ccedil;&atilde;o de Empresas, com especializa&ccedil;&atilde;o em Gest&atilde;o de Projetos, Processos<br />