A Covid e a letra morta da lei

22 de junho de 2021 às 21:50

Tenente Dirceu Cardoso Gon&cce
Al&eacute;m de todo o drama que a Covid-19, por si, representa &ndash; principalmente a perda de entes queridos &ndash; ainda h&aacute; o superveniente e devastador aspecto econ&ocirc;mico. A fam&iacute;lia come&ccedil;a a passar priva&ccedil;&otilde;es quando o seu arrimo &eacute; internado e passa um, dois e at&eacute; mais meses recolhido ao hospital e sem produzir. Quando salvo, ele volta com a necessidade de fisioterapia e outros cuidados e, muitas vezes, sem condi&ccedil;&atilde;o de retomar a atividade. E o servi&ccedil;o p&uacute;blico de Sa&uacute;de, no quadro de satura&ccedil;&atilde;o em que se encontra, nem sempre disponibiliza as terapias. Afora esse quadro gen&eacute;rico, h&aacute; a situa&ccedil;&atilde;o do paciente que, n&atilde;o encontrando assist&ecirc;ncia na rede p&uacute;blica, &eacute; levado a hospitais particulares e a fam&iacute;lia resta com d&iacute;vidas de n&iacute;vel impag&aacute; vel para suas condi&ccedil;&otilde;es econ&ocirc;micas. S&atilde;o in&uacute;meros os casos em que, tendo ou n&atilde;o salvo a vida do paciente, os hospitais cobram elevados valores, levando as fam&iacute;lias a vender ve&iacute;culos, casas e, mesmo assim, continuar endividadas.<br /> <br /> &Eacute; nesse aspecto que ocorre a sensa&ccedil;&atilde;o da lei como letra morta. O artigo 196 da Constitui&ccedil;&atilde;o, que diz &ldquo;a sa&uacute;de &eacute; direito de todos e dever do Estado&rdquo;, simplesmente inexiste e nunca existiu. A excepcionalidade da pandemia acaba justificando a falta de vagas para todos os adoecidos e os que, numa solu&ccedil;&atilde;o de desespero, buscam o atendimento privado, arru&iacute;nam-se irremediavelmente. &Eacute; preciso encontrar a solu&ccedil;&atilde;o. O correto seria que as vagas hospitalares e de servi&ccedil;os p&uacute;blicos de sa&uacute;de fossem suficientes e, se n&atilde;o o fossem, os governos estadual e municipal, que recebem verba federal para a pandemia, contratassem as vagas da rede privada para evitar que os cidad&atilde;os continuem morrendo na fila de espera pela abertura de sua vaga que, via-de-regra, &eacute; decorren te da morte de outro paciente anteriormente internado.<br /> <br /> &Eacute; preciso compreender que todo cidad&atilde;o acometido por mol&eacute;stias &ndash; especialmente pela Covid-19, motivadora de estado de emerg&ecirc;ncia - tem direito ao socorro custeado pelo Poder P&uacute;blico. Os executores dos programas de emerg&ecirc;ncia &ndash; Uni&atilde;o, Estados e Munic&iacute;pios &ndash; que t&ecirc;m &agrave; disposi&ccedil;&atilde;o verbas e legisla&ccedil;&atilde;o menos burocr&aacute;tica para as aquisi&ccedil;&otilde;es, precisam ser &aacute;geis no cumprimento das obriga&ccedil;&otilde;es. Jamais poderiam ter ocorrido os desvios que levaram os recursos liberados pela Uni&atilde;o &agrave; contrata&ccedil;&atilde;o de hospitais de emerg&ecirc;ncia que n&atilde;o foram instalados ou utilizados, compra de UTIs e insumos n&atilde;o foram entregues e pagamento de precat&oacute;rios e outras d&iacute;vidas dos entes federados (Estados e Prefeituras) estranhas ao combate do co ronav&iacute;rus. O dinheiro destinado &agrave; pandemia tem, obrigatoriamente, de ser nela aplicado e, se necess&aacute;rio, ainda ser suplementado. Cada paciente que morre na fila ou n&atilde;o consegue ser atendido na rede hospitalar, &eacute; um libelo sobre a incompet&ecirc;ncia dos governos e de seus titulares.<br /> <br /> Vemos no Senado a CPI da Covid mirando o presidente da Rep&uacute;blica. Faria melhor se arregimentasse for&ccedil;as para garantir o atendimento aos pacientes. O mesmo ocorre com as comiss&otilde;es municipais que apuram o destino dado pelos prefeitos ao dinheiro recebido para cuidar da pandemia. Deveriam todos trabalhar para garantir as vagas que a popula&ccedil;&atilde;o precisa para seu socorro. E, depois de terminada a pandemia &ndash; quando brasileiros deixarem de morrer pelo mal &ndash; se apurar as quest&otilde;es econ&ocirc;micas, fiscais e at&eacute; criminais. Hoje a grande prioridade &eacute; atender aos doentes. Depois desse item cumprido, verificar a contabilidade e principalmente os desvios e atos irregulares para punir os respons&aacute;veis, independente de quem sejam eles.<br /> <br /> O momento &eacute; de emerg&ecirc;ncia. N&atilde;o admite protela&ccedil;&atilde;o e nem tempo para estudos. H&aacute; que se estudar a mol&eacute;stia durante o seu tratamento. Destinem-se todos os esfor&ccedil;os para salvar vidas. Todo o resto poder&aacute; ser feito posteriormente...<br /> &nbsp;<br /> <img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" width="60" hspace="3" height="81" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Por <i><b>Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</b></i> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - aspomilpm@terra.com.br<br />