LIVRO TEM PRAZO DE VALIDADE?

10 de julho de 2021 às 18:49

Luiz Carlos Amorim
Florian&oacute;polis tem o Projeto Floripa Letrada, que consiste em estantes nos terminais de &ocirc;nibus, onde s&atilde;o disponibilizados livros, revistas e apostilas. A proposta &eacute; que os usu&aacute;rios dos &ocirc;nibus urbanos levem os livros para ler e depois devolvam, para que outras pessoas possam fazer o mesmo, mas aqueles que devolvem s&atilde;o muito, muito poucos. Nos &uacute;ltimos tempos n&atilde;o tenho passado nos terminais de &ocirc;nibus, por causa da pandemia, mas acho que n&atilde;o h&aacute; livros l&aacute;, para n&atilde;o facilitar o cont&aacute;gio.<br /> <br /> O projeto existe e deve voltar com o fim da panemia. Ele persiste gra&ccedil;as a doa&ccedil;&otilde;es de empresas e pessoas f&iacute;sicas e, como disse acima, nos &uacute;ltimos anos o forte do que era oferecido nas estantes eram as apostilas did&aacute;ticas ou t&eacute;cnicas, novas ou usadas. Algumas defasadas, mas outras em perfeito estado para serem usadas, at&eacute; novas, que nunca foram abertas.. Eu at&eacute; peguei uma apostila de ingl&ecirc;s e outras de matem&aacute;tica e as usei.<br /> Mas num curto per&iacute;odo, algum tempo antes da pandemia chegar, a gente encontrava livros liter&aacute;rios mais frequentemente e em maior quantidade nas estantes do Floripa Letrada. Livros antigos, mas obras importantes de autores consagrados, como M&aacute;rio de Andrade, Monteiro Lobato, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Vin&iacute;cius de Moraes, Pedro Bandeira, Salim Miguel, S&eacute;rgio da Costa Ramos, Pedro Block, Dostoievski e tantos outros.<br /> <br /> Pelo carimbo que havia em todos os livros, ficou-se sabendo que os livros eram da biblioteca de um grande col&eacute;gio da capital, tradicional e ainda elitista. &Eacute; interessante que no tal carimbo consta o nome do col&eacute;gio e a esclarecedora observa&ccedil;&atilde;o: &ldquo;Baixa de acervo&rdquo;.<br /> <br /> Acho &oacute;timo que disponibilizem obras de qualidade para a leitura dos usu&aacute;rios do transporte p&uacute;blico, pois temos a oportunidade de ler bons livros sem ter que pagar nada, mas fico pensando aqui com meus bot&otilde;es: a boa literatura fica velha?&nbsp; Nunca vi uma escola se desfazer do acervo de sua biblioteca assim, descartando todos os livros publicados h&aacute; mais de uma d&eacute;cada, como se n&atilde;o servissem mais para os seus alunos, como se estivessem completamente defasados para aquela escola.<br /> <br /> J&aacute; vi, infelizmente, uma escola de uma cidade vizinha jogar fora &ndash; jogar no lixo, mesmo -, livros did&aacute;ticos novos. O diretor foi despedido. Mas descartar livros de uma biblioteca por serem velhos, &eacute; novidade. O livro pode at&eacute; ficar velho, mas a obra, n&atilde;o. Ser&aacute; que a escola s&oacute; queria abrir espa&ccedil;o, nas suas depend&ecirc;ncias, para outra atividade? Eu poderia dizer que fizeram bem porque os livros seriam lidos novamente por v&aacute;rios leitores, cada um daqueles volumes descartados, mas como mencionei acima, o prop&oacute;sito de ler e devolver ao projeto Floripa Letrada n&atilde;o &eacute; cumprido. Ent&atilde;o os estudantes que se renovam a cada ano, na escola que cedeu os livros, poderiam ler e recriar a escritura de tantos autores muito mais vezes. De qualquer maneira, eles ter&atilde;o, espero, livros mais contempor&acirc;neos para ler, ou mesmo os cl&aacute;ssicos em novas edi&ccedil;&otilde;es. E n&oacute;s, c&aacute; de fora, teremos as obras que foram publicadas h&aacute; mais tempo, graciosamente. Menos mau.<br /> <br /> <img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/artigos_luiz-carlos-amorim.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> Por <i><b>Luiz Carlos Amorim</b></i> - Escritor, editor e revisor, Fundador e presidente do Grupo Liter&aacute;rio A ILHA, com 35 anos de trajet&oacute;ria, cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras. http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br