O (permanente) risco à democracia

10 de julho de 2021 às 18:54

Tenente Dirceu Cardoso Gon&cce
O empres&aacute;rio-apresentador Luciano Huck, afirmou dias atr&aacute;s que a democracia est&aacute; em risco no Brasil. N&atilde;o falou novidade. A Rep&uacute;blica, em 1889, foi resultado de um golpe militar contra o imperador Pedro II. Dois anos depois, Deodoro da Fonseca, seu proclamador, foi afastado e o pa&iacute;s viveu por tr&ecirc;s d&eacute;cadas a altern&acirc;ncia entre tempos mais e menos &ldquo;democr&aacute;ticos&rdquo;. At&eacute; que, em 1930, a revolu&ccedil;&atilde;o pilotada por Get&uacute;lio Vargas conduziu a 15 anos de governo do caudilho ga&uacute;cho, pelo menos oito deles sob absoluta ditadura. O per&iacute;odo 1945-64 foi democr&aacute;tico, mas n&atilde;o esque&ccedil;amos de epis&oacute;dios antidemocr&aacute;ticos como o suic&iacute;dio do pr&oacute;pri o Vargas &ndash; que depois da queda voltou &agrave; presid&ecirc;ncia por elei&ccedil;&atilde;o direta e preferiu morrer a renunciar, como exigiam seus opositores e for&ccedil;as militares -, a tentativa de golpe contra a posse de Juscelino, a ascens&atilde;o e ren&uacute;ncia de J&acirc;nio, a resist&ecirc;ncia dos militares &agrave; posse do vice Jo&atilde;o Goulart e a instabilidade de seu governo, finalizado antecipadamente a 31 de mar&ccedil;o, por a&ccedil;&atilde;o das For&ccedil;as Armadas que, segundo a hist&oacute;ria, agiram a pedido da Sociedade e da Igreja (a Marcha com Deus Pela Fam&iacute;lia e Liberdade) para frustrar um temido golpe que extinguiria a democracia e instituiria a ditadura do proletariado. Logo, a democracia brasileira sempre esteve na corda bamba. N&atilde;o &eacute; s&oacute; agora.<br /> <br /> Os militares de 64, embora com atua&ccedil;&atilde;o discricion&aacute;ria, afirmavam faz&ecirc;-lo em nome da democracia. E, quando sa&iacute;ram, em 1985, os que os substitu&iacute;ram tamb&eacute;m se rotulavam&nbsp; &ldquo;democratas&rdquo;, mesmo os comunistas que militavam clandestinamente no chamado &ldquo;partid&atilde;o&rdquo;, cuja g&ecirc;nese &eacute; a ditadura com partido &uacute;nico. Durante os 36 anos que nos separam da descida dos militares do comando do governo, muita coisa aconteceu. Vivemos dois impeachments presidenciais, a gradativa transfer&ecirc;ncia do poder aos ex-advers&aacute;rios do regime militar, a Constituinte que nos legou uma Carta parlamentarista mas n&atilde;o teve for&ccedil;a para a pretendida revoga&ccedil;&atilde;o do presidencialis mo e, mais recentemente, os esc&acirc;ndalos de corrup&ccedil;&atilde;o que &ndash; estes sim &ndash; amea&ccedil;aram a democracia e se n&atilde;o tiverem a mais isenta e justa apura&ccedil;&atilde;o, ainda poder&atilde;o destru&iacute;-la.<br /> <br /> Sempre faltou a verdadeira estabilidade institucional &agrave; democracia brasileira. Governo, Parlamento e at&eacute; o Judici&aacute;rio n&atilde;o agem dentro de seus limites e &ndash; extrapolando ou se omitindo &ndash; enfraquecem o regime democr&aacute;tico, transformando-o num mero conjunto de frases e teorias que n&atilde;o se articulam entre si. O que temos hoje &eacute; mais do mesmo, com roupagem contempor&acirc;nea. Uns pregam o golpe de direita pilotado pelas For&ccedil;as Armadas, outros se dizem democratas mas querem a ditadura do proletariado, e o povo n&atilde;o sabe em quem acreditar.<br /> <br /> Para a democracia n&atilde;o correr riscos, teria ela de ser forte e as institui&ccedil;&otilde;es ordeiras e cumpridoras fi&eacute;is de suas atribui&ccedil;&otilde;es legais, coisa que sempre foi utopia em nosso pa&iacute;s. Hoje movimentam-se para derrubar Bolsonaro. Consigam ou n&atilde;o, em breve far&atilde;o o mesmo com seu sucessor. O &ldquo;risco &agrave; democracia&rdquo; &eacute; permanente ou, numa melhor defini&ccedil;&atilde;o, ela n&atilde;o existe ou e extremamente deficiente. Hulk parece entusiasmado, embora, prudentemente, j&aacute; tenha desistido de, pelo menos por ora, enfrentar uma aventura eleitoral. &Eacute; preciso acautelar-se pois dirigir um pa&iacute;s &eacute; diferente de comandar um programa de audit&oacute;rio ou neg&oacute;cios a ele correlatos. Nem sempre quem &eacute; conhecido arrebata os votos do eleitorado, mas se n&atilde;o tomar cuidados, &eacute; usado pelas velhas raposas pol&iacute;ticas que deles tiram proveito e, depois, os abandonam. Se popularidade midi&aacute;tica fosse prestigio eleitoral, os grandes nomes da &aacute;rea &ndash; especialmente da TV e do r&aacute;dio &ndash; que enfrentaram a disputa, teriam sido eleitos e o setor teria grande for&ccedil;a principalmente no parlamento. Mas isso n&atilde;o ocorreu.<br /> <br /> Prestigio pol&iacute;tico e midi&aacute;tico s&atilde;o patrim&ocirc;nios diferentes. Quem os confunde, normalmente, se d&aacute; mal. Da mesma forma, democracia n&atilde;o &eacute; o que temos vivido. Precisamos consertar muitos conceitos e procedimentos para alcan&ccedil;&aacute;-la. &Eacute; dif&iacute;cil, mas n&atilde;o devemos perder a esperan&ccedil;a... &nbsp;<br /> <br /> <img src="https://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" width="60" hspace="3" height="81" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Por <b><i>Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</i></b> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - aspomilpm@terra.com.br <br />