A farra do fundo eleitoral

21 de julho de 2021 às 11:07

Tenente Dirceu Cardoso Gon&cce
O aumento de 185% no valor do Fundo Eleitoral &ndash; aprovado pelo Congresso Nacional nesta quinta-feira, dentro do projeto da Lei de Diretriz Or&ccedil;ament&aacute;ria &ndash; &eacute; um disparate num pa&iacute;s com tantas car&ecirc;ncias. Em vez dos R$ 2 bilh&otilde;es empregados nas elei&ccedil;&otilde;es municipais do ano passado e dos R$ 1,8 bilh&atilde;o gastos nas de 2018, os partidos receber&atilde;o R$ 5,7 bilh&otilde;es no pr&oacute;ximo ano. Como custear as elei&ccedil;&otilde;es e suas campanhas sempre foi um tabu brasileiro. Diante da reclama&ccedil;&atilde;o de que candidatos ricos levavam vantagem porque empregavam recursos pr&oacute;prios, proibiu-se essa pr&aacute;tica, ent&atilde;o rotulada como &ldquo;abuso do poder econ&ocirc;mico&rdquo;. Mas, mesmo assim, o custeio das campanhas continuou fr&aacute;gil e ensejou espertezas como os mesal&otilde;es (o mineiro e o nacional) e o petrol&atilde;o com suas variantes. Tais esquemas, em s&iacute;ntese, fraudaram licita&ccedil;&otilde;es em &oacute;rg&atilde;os e obras p&uacute;blicas para carrear os recursos do superfaturamento aos pol&iacute;ticos aliados dos governos, com o objetivo de financiar suas campanhas de reelei&ccedil;&atilde;o (ou mesmo para o puro enriquecimento il&iacute;cito). Quando os art&iacute;fices dessas artimanhas, descobertos, estavam indo para a cadeia, a mini-reforma eleitoral de 2015 proibiu a doa&ccedil;&atilde;o empresarial a partidos e candidatos, supostamente para evitar que empreiteiras continuassem fraudando licita&ccedil;&otilde;es e financiando os pol&iacute;ticos. Mas, como o dinheiro tem de sair de algum lugar, ampliaram-se os fundos de sustenta&ccedil;&atilde;o aos partidos e &agrave;s elei&ccedil;&otilde;es. Agora, o er&aacute;rio &ndash; que &eacute; dinheiro do contribuinte &ndash; al&eacute;m de custear o processo p&uacute;blicos das elei&ccedil;&otilde;es, tamb&eacute;m paga as despesa s dos partidos e a campanha dos candidatos.<br /> <br /> Com todas as contas pagas pelo dinheiro do contribuinte, fica muito f&aacute;cil &ndash; at&eacute; vantajoso - fazer pol&iacute;tica neste pa&iacute;s. Em vez de funcionar como um clube, onde cada associado paga a sua anuidade e esta custeia as despesas, os filiados e especialmente os dirigentes das agremia&ccedil;&otilde;es s&oacute; tiram vantagens, porque a conta &eacute; honrada pelo er&aacute;rio. H&aacute;, ainda, a desconfian&ccedil;a de que muitos dirigentes &ndash; verdadeiramente donos das legendas &ndash; vivem dos seus recursos e ainda usam o partido para negociar, pressionar o governo e auferir vantagens. O quadro &eacute;, no m&iacute;nimo, desonroso. E o pior &eacute; que, h&aacute; pelo menos 30 anos, os sucessivos governos t&ecirc;m recorrido ao escambo para formar as maiorias congressuais. Em vez de teses e quest&otilde;es pol&iacute;ticas, ficou claro que durante todo esse tempo, adquiriram voto s parlamentares oferecendo&nbsp; cargos, benesses e at&eacute; dinheiro vivo vindo do caixa dois das empreiteiras participantes das fraudes.<br /> <br /> Na esperteza agora praticada, vemos vozes isoladas protestando sem muito empenho. Uns procuram jogar a &ldquo;culpa&rdquo; sobre os outros. Os oposicionistas atribuem a manobra aos governistas e estes dizem que nada puderam fazer porque o importante era aprovar a LDO, mesmo com os jabutis colocados pelo relator, deputado Juscelino Filho (DEM-MA). Chama a aten&ccedil;&atilde;o a informa&ccedil;&atilde;o que, como foi aprovado o projeto, o Fundo Eleitoral ter&aacute; verba maior do que os or&ccedil;amentos dos minist&eacute;rios do Meio Ambiente e da Cidadania. Acusa-se o chamado &ldquo;Centr&atilde;o&rdquo; de ter pilotado as mudan&ccedil;as. Mas todos os partidos ser&atilde;o beneficiados. PSL e PT, donos das maiores bancadas na C&acirc;mara, saltar&atilde;o de R$ 200 milh&otilde;es recebidos para as elei&ccedil;&otilde;es de 2020, para R$ 600 milh&otilde;es nas de 2022.<br /> <br /> S&oacute; existem duas formas de evitar essa sangria aos cofres p&uacute;blicos. O Executivo vetar as altera&ccedil;&otilde;es introduzidas &agrave; forma de c&aacute;lculo do Fundo Eleitoral, o que poder&aacute; levar a uma guerra com o Legislativo e prejudicar a governabilidade, ou reduzir as verbas para esse fim na Lei do Or&ccedil;amento Anual, que ser&aacute; enviada ao Congresso em agosto para a vota&ccedil;&atilde;o at&eacute; o final do ano. Mas, qualquer das alternativas, ser&aacute; fr&aacute;gil. O veto pode ser derrubado pelos congressistas, que tamb&eacute;m poder&atilde;o mexer na lei do or&ccedil;amento anual. O melhor para a Na&ccedil;&atilde;o seria que a classe pol&iacute;tica tivesse mais consci&ecirc;ncia, saindo da bolha e tomando conhecimento dos problemas vividos pela comunidade. Sem isso, a farra tende a continuar...<br /> &nbsp;<br /> <img src="https://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" width="60" hspace="3" height="81" align="left" alt="" /><br /> <br /> Por <i><b>Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</b></i> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - aspomilpm@terra.com.br <br />