O Brasil possui um Estado Forte ou um Estado Fraco?

11 de agosto de 2021 às 18:25

Alexandre Aroeira Salles
<div>Quando se trata de melhorar o Brasil, n&oacute;s brasileiros ficamos dando &quot;murro em ponta de faca&quot;. H&aacute; mais de cem anos, estamos &quot;batendo na mesma tecla&quot;, errada e desafinada, do atalho imediatista e do n&atilde;o desenvolvimento duradouro e sustent&aacute;vel de toda a na&ccedil;&atilde;o. Para piorar, colocamos erradamente a culpa no &lsquo;ser brasileiro&rsquo;, que nada de diferente tem dos demais seres humanos, e assim deixamos de atuar onde de fato poder&iacute;amos acelerar nossa moderniza&ccedil;&atilde;o.&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div>Ao longo das d&eacute;cadas, conseguimos criar um &lsquo;Estado Fraco&rsquo;, que n&atilde;o consegue proteger os honestos contra os desonestos, e nem prestar os mais b&aacute;sicos servi&ccedil;os p&uacute;blicos de sa&uacute;de, educa&ccedil;&atilde;o, seguran&ccedil;a e infraestrutura.&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div>Paradoxalmente, conseguimos, ao mesmo tempo, estruturar um &lsquo;Estado Forte&rsquo;, que atrapalha o empreendedor e o trabalhador quando tentam criar riqueza e levar prosperidade a todos.&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div>O Estado &eacute; fraco quando n&atilde;o consegue evitar: mais de cinquenta mil assassinatos por ano; milh&otilde;es de agress&otilde;es e estupros contra mulheres e crian&ccedil;as; roubos de toda ordem, devedores contumazes dando calotes nos credores impunemente; bairros sob o comando do tr&aacute;fico de drogas ou de mil&iacute;cias; a corrup&ccedil;&atilde;o sist&ecirc;mica e a viol&ecirc;ncia como forma de agir das autoridades; desmatamentos ilegais na Amaz&ocirc;nia; e a captura dos cofres p&uacute;blicos de munic&iacute;pios, estados e da Uni&atilde;o por corpora&ccedil;&otilde;es de empresas, pol&iacute;ticos e altos funcion&aacute;rios p&uacute;blicos, sugando &quot;legalmente&quot; os recursos que deveriam ir para os mais necessitados.&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div>Por outro lado, temos um Estado FORTE em criar milhares de regras que colocam o cidad&atilde;o de joelhos em um cipoal ineficiente de entraves burocr&aacute;ticos, com &oacute;rg&atilde;os lotados de funcion&aacute;rios p&uacute;blicos desmotivados e impacientes, al&eacute;m de mais de 500 ineficientes empresas estatais. &Eacute; forte tamb&eacute;m para multar e tributar desproporcionalmente o trabalhador e o empreendedor; ao mesmo tempo em que &eacute; forte para dar privil&eacute;gios, subs&iacute;dios e isen&ccedil;&otilde;es tribut&aacute;rias a setores empresariais organizados, assim como para ampliar a j&aacute; alt&iacute;ssima remunera&ccedil;&atilde;o e aposentadorias de membros do Judici&aacute;rio, do Minist&eacute;rio P&uacute;blico e do Legislativo, concedendo-lhes carros, motoristas, pr&eacute;dios suntuosos e penduricalhos de toda ordem, al&eacute;m das f&eacute;rias superiores a 30 dias por ano.&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div>N&atilde;o se pode esquecer do absurdo a que o empreendedor pequeno, m&eacute;dio ou grande do agroneg&oacute;cio est&aacute; sujeito perante tal &quot;Estado Forte&quot;, quando se v&ecirc; rapidamente multado e at&eacute; processado criminalmente por haver limpado arbustos na sua &aacute;rea sem pr&eacute;via autoriza&ccedil;&atilde;o de &oacute;rg&atilde;o ambiental, enquanto espera anos por uma licen&ccedil;a para iniciar a produ&ccedil;&atilde;o.&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div>A cada arranjo que se faz aqui ou ali, o que se tem &eacute; a demonstra&ccedil;&atilde;o clara da aus&ecirc;ncia de foco e prioridade na constru&ccedil;&atilde;o de um Estado que deveria cumprir as suas principais miss&otilde;es de: (i) prestar bons servi&ccedil;os p&uacute;blicos (educa&ccedil;&atilde;o, sa&uacute;de e seguran&ccedil;a p&uacute;blica); (ii) proteger os honestos contra os desonestos, garantindo, ainda, o direito de propriedade do credor contra o devedor (inclusive quando &eacute; o Estado o mau pagador); (iii) investigar eficientemente o corrupto, o ladr&atilde;o, o estuprador, o traficante e o assassino para, depois de process&aacute;-los com agilidade e seguindo o devido processo legal, puni-los exemplarmente; (iv) viabilizar, direta ou indiretamente, boa infraestrutura e desenvolvimento urbano; (v) regular bem a sociedade para evitar abusos, preconceitos e injusti&ccedil;as, combatendo toda forma de discrimina&ccedil;&atilde;o; (vi) cobrar impostos com isonomia, sem gastar mais do que arrecada, e tributando progressivamente a renda para diminuir a desigualdade social; (vii) inserir o Brasil nas cadeias produtivas e comerciais globais e o fortalecimento da coopera&ccedil;&atilde;o concreta e efetiva entre os povos, atuando, ainda, pela difus&atilde;o do potencial econ&ocirc;mico, ambiental, cultural e tur&iacute;stico do pa&iacute;s.&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div>Perceba-se que tal miss&atilde;o n&atilde;o &eacute; um dilema de partidos ditos de esquerda, centro ou de direita, mas sim uma prioridade civilizat&oacute;ria comum para todos n&oacute;s. Se f&ocirc;ssemos uma na&ccedil;&atilde;o verdadeiramente comprometida com nossos filhos e netos, n&atilde;o deveria haver qualquer diferen&ccedil;a entre os programas dos partidos pol&iacute;ticos vigentes, todos teriam que dizer e propagar pol&iacute;ticas p&uacute;blicas na mesma dire&ccedil;&atilde;o. Temos que nos unir para, primeiramente, fazer o &oacute;bvio e o priorit&aacute;rio. Depois de feito, podemos nos dividir, para afinar o instrumento em dire&ccedil;&atilde;o mais progressista ou mais conservadora nos costumes e na economia.&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div>A culpa de nosso intermedi&aacute;rio desenvolvimento socioecon&ocirc;mico n&atilde;o decorre do nosso clima, de nossa cultura e nem de nossos vizinhos; mas sim da nossa persistente omiss&atilde;o em fortalecer as institui&ccedil;&otilde;es p&uacute;blicas para que incentivem nos brasileiros comportamentos positivos e construtivos, protegendo os honestos contra os desonestos e promovendo pol&iacute;ticas p&uacute;blicas que revertam para o genu&iacute;no benef&iacute;cio de toda a Na&ccedil;&atilde;o.&nbsp;</div> <div>&nbsp;</div> <div>Por <i><b>Alexandre Aroeira Salles</b></i>, doutor em Direito e s&oacute;cio-fundador do Aroeira Salles Advogados.&nbsp;</div>