Voto impresso, uma questão mal encaminhada

11 de agosto de 2021 às 18:30

Tenente Dirceu Cardoso Gon&cce
<div>Depois de toda a pol&ecirc;mica, que nos levou &agrave; sensa&ccedil;&atilde;o de crise institucional cujas conseq&uuml;&ecirc;ncias ainda n&atilde;o &eacute; poss&iacute;vel quantificar, a C&acirc;mara dos Deputados rejeitou nesta ter&ccedil;a-feira, a PEC 135/2019, que determina a impress&atilde;o dos votos nas urnas eletr&ocirc;nicas como forma&nbsp; de auditoria e elimina&ccedil;&atilde;o de d&uacute;vidas. Mas o assunto n&atilde;o est&aacute; liquidado. H&aacute; no Senado a PEC 182/2007, j&aacute; aprovada pela C&acirc;mara em 2015, que tamb&eacute;m cria a obrigatoriedade de impress&atilde;o do voto. Desse projeto, apenas a cria&ccedil;&atilde;o da janela para a mudan&ccedil;a de partido sem a perda de mandato foi aproveitada pelos senadores e o restante ficou engavetado. A id&eacute;ia &eacute; desmembrar a quest&atilde;o do voto impresso e tramit&aacute;-la no Senado, sem a necessidade de volta &agrave; C&acirc;mara, pois os deputados j&aacute; a aprovaram.</div> <div>&nbsp;</div> <div>O ocorrido com a PEC 135 tem mais rela&ccedil;&atilde;o com o momento ins&oacute;lito vigente na pol&iacute;tica nacional do que com as medidas nela contidas. A impress&atilde;o dos votos em nada prejudicaria o atual processo eleitoral (e at&eacute; lhe conferiria mais seguran&ccedil;a) e a n&atilde;o impress&atilde;o n&atilde;o constitui indicativo de que haveria fraude deliberada. Portanto, n&atilde;o &eacute; cr&iacute;vel o que afirmam o ministro Luiz Roberto Barroso, presidente do TSE, que garante a inviolabilidade e seguran&ccedil;a das urnas eletr&ocirc;nicas, nem o o que diz o presidente Jair Bolsonaro, que sem voto impresso s elei&ccedil;&otilde;es poder&atilde;o ser fraudadas. S&atilde;o meras suposi&ccedil;&otilde;es que apenas inflaram a discuss&atilde;o mas n&atilde;o trazem s olidez &agrave;s afirmativas e, positivamente, n&atilde;o devem ter sido a raz&atilde;o da decis&atilde;o de voto dos deputados, tanto 229 os que votaram a favor quanto os 218 contr&aacute;rios ao projeto que, para ser aprovado, precisava de 308 votos. Foi apenas mais uma queda de bra&ccedil;os com componentes surreais e milhares de eventos paralelos tumultuadores. Mas nesse momento, a C&acirc;mara dos Deputados resta com a obriga&ccedil;&atilde;o de dizer &agrave; Na&ccedil;&atilde;o a raz&atilde;o da decis&atilde;o de seus membros e, inclusive, pelo que decidiram, garantir de que n&atilde;o h&aacute; o risco de fraude.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Afora o conflito estabelecido, h&aacute; que se considerar outras propostas que atenderiam os objetivos constantes tanto na PEC 135 quando na 182. &Eacute; interessante a proposta do engenheiro Carlos Rocha, que participou do processo de desenvolvimento das urnas, nos anos 90, de em vez de se imprimir os votos, criar-se a certifica&ccedil;&atilde;o digital que coloque voto-a-voto em condi&ccedil;&otilde;es de ser apurados, reapurados e auditados. Isso &ndash; lembra o t&eacute;cnico - j&aacute; &eacute; poss&iacute;vel com a tecnologia e a legisla&ccedil;&atilde;o hoje dispon&iacute;veis em nosso pa&iacute;s.</div> <div>&nbsp;</div> <div>Outro ponto defendido por Rocha &eacute; a descentraliza&ccedil;&atilde;o do processo de apura&ccedil;&atilde;o, hoje restrito ao TSE e mantido como propriedade de seus t&eacute;cnicos. A proposta &eacute; que, al&eacute;m de certificados, os votos sejam dispon&iacute;veis para passar pela fiscaliza&ccedil;&atilde;o dos partidos e por auditorias independentes, sempre com car&aacute;ter t&eacute;cnico e jamais pol&iacute;tico-partid&aacute;rio. Isso afastaria todas as d&uacute;vidas hoje pendentes como a de invas&atilde;o do sistema por hackers conforme o ocorrido em 2018 e apurado em inqu&eacute;rito da Pol&iacute;cia Federal.</div> <div>&nbsp;</div> <div>A confiabilidade do processo eleitoral &eacute; fundamental &agrave; sociedade. Ela dar&aacute; ao eleitor a certeza de que o seu voto foi contabilizado para o candidato de sua prefer&ecirc;ncia, tenha ele sido ou n&atilde;o eleito. Os deputados que votaram a PEC 135 foram pressionados por uma luta desmedida e impr&oacute;pria para uma decis&atilde;o de tamanha import&acirc;ncia. &Eacute; preciso, de alguma forma, encontrar a pacifica&ccedil;&atilde;o e o ponto de equil&iacute;brio. N&atilde;o podem contr&aacute;rios e favor&aacute;veis a qualquer tipo de controle do processo se comportar como estando numa guerra. Isso n&atilde;o promove o aperfei&ccedil;oamento e nem a confian&ccedil;a da popula&ccedil;&atilde;o e torna-se muito ruim para todos n&oacute;s. Raciocinemos que a urna eletr&amp;oc irc;nica existe h&aacute; 25 anos. Nesse intervalo a tecnologia desenvolveu-se muito e, pelo que se sabe, o sistema n&atilde;o evoluiu na mesma propor&ccedil;&atilde;o. Tanto que, entre os que usam vota&ccedil;&atilde;o eletr&ocirc;nica, apenas tr&ecirc;s pa&iacute;ses aplicam as nossas urnas: Brasil, But&atilde;o e Bangladesh.</div> <div>&nbsp;</div> <img src="https://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" width="60" height="81" hspace="3" align="left" alt="" /> <div><br /> <br /> Por <i><b>Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</b></i> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) -&nbsp;aspomilpm@terra.com.br&nbsp;</div>