Enquanto os candidatos trocam farpas – o que tornou-se comum numa campanha eleitoral - e acontece a indigesta discussão sobre a lisura das eleições e mais precisamente a segurança das urnas eletrônicas, o calendário eleitoral vai se esvaindo e não se discute temas de interesse da população, que deveriam nortear a campanha e proporcionar o voto de qualidade. Não se tem falado, por exemplo, de Educação. Até parece que o ensino brasileiro vai muito bem e, principalmente, que cumpre integralmente suas finalidades. Mas isso não é verdade.
O país faz elevados investimentos em estruturas educacionais, mas estas atuam divorciadas das necessidades da população e principalmente da sociedade e da economia. A primeira preocupação com o ensino deveria estar na sua utilidade para o encaminhamento do alunado frente às necessidades nacionais. Mas isso não é o que se verifica na prática. As instituições estão mais voltadas às necessidades e interesses corporativos de seus servidores do que à finalidade educativa. Pior é que em muitas delas ainda está presente o ativismo político-ideológico, que nada tem a ver com o ensino, mas é visto como prioridade por muitos dos seus mestres.
Os formuladores das políticas de ensino deveriam estar preocupados em criar e manter currículos utilitários, capazes de habilitar o estudante para o exercício das atividades com as quais se defrontarão ao atingirem a faixa etária de entrada no mercado de trabalho. O currículo do ensino básico e médio deveria contemplar o preparo para o trabalho porque sabemos que a maior parte dos alunos não chegará à universidade que, pelo entendimento tradicional, é o nível em que ocorrerá a preparação para a atividade profissional. Se as escolas continuarem “pensando” dessa forma, será cada dia maior o fosso entre a população e o mercado. O aluno não foi preparado para o trabalho, porque isso seria feito na universidade mas ele não chegou lá, e o mercado precisa de mão-de-obra preparada para as suas atividades, cada dia mais exigentes mercê da tecnologia agregada. É preciso fazer algo nesse sentido. Todos precisam estar preparados para o trabalho, não apenas os que conseguem terminar a universidade, que constituem minoria dentro do conjunto da população..
Os candidatos – homens e mulheres que postulam um lugar onde poderão fazer ou modificar as leis – parecem não estar nem um pouco preocupados com essa dura realidade. Se estivessem, certamente falariam disso em campanha e até poderiam sensibilizar o eleitorado porque diriam o que o povo sente no seu dia-a-dia. Todas as pessoas sentem a dificuldade de inserção ao mercado quando param de estudar na fase intermediária, porque a escola não lhes ministrou nada de prático, mas as teorias que só fariam sentido lá na frente, quando fossem receber o treinamento na universidade. E, em muitos casos, na universidade, quando o aluno deveria ser levado a extremos para aprender e bem posicionar-se diante das oportunidades de trabalho, ele sofre a tentativa de cooptação política por parte de professores e até de colegas que um dia já foram cooptados e, em vez de suas obrigações profissionais, tentam transformar a sala de aulas num comitê político.
A ministração de cultura política na escola é interessante e até necessária, mas não pode trazer o viés ideológico. O aluno deve ser informado sobre como funcionam as instituições como o processo eleitoral, a administração pública e afins, mas não chamado a optar por um dos lados das disputas. Todos têm o direito de participar da política no lado que melhor lhe convier ou atender ao seu pensamento, mas isso deve ser uma decisão pessoal, jamais o fruto da influência daqueles que recebem salários para transmitir conhecimentos.
Falo sobre a falta de atenção dos candidatos às dificuldades da Educação. Mas ela é maior. Em vez de trocar insultos ou tentar diminuir o concorrente, todo candidato deveria falar sobre Educação, Saúde, Trabalho, Moradia, Segurança, Assistência Social e outros temas que são caros à população, dizendo quais as suas propostas para resolver os problemas de cada área. Da forma que os temos visto fazer, a campanha não serve para absolutamente nada e, em vez de atrair, pode até afastar o eleitor...
Por
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves, dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) -
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