O AGRO E O GOVERNO

08 de novembro de 2022 às 11:52

Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) a demanda global de alimentos deverá aumentar perto de 70% até 2050. Acontece que o Brasil é um dos únicos países do mundo em condições de atender uma grande parte desta demanda. Temos água, terra, clima e estabilidade religiosa e política. Aí entra o papel dos próximos governantes. Pensando na segurança alimentar não só do Brasil, mas do mundo, o desafio é produzir mais, sem desmate ilegal, conservando ou melhorando o ambiente e com justiça social. Neste ponto estamos na frente, com o Código Florestal e a regulamentação do trabalho rural. Outro ponto que coloca o Brasil na vanguarda é o programa ABC+, Agricultura de Baixo Carbono, que existe, mas ainda precisa chegar mais efetivamente ao campo.
 
Para que o Brasil continue na liderança dessa revolução verde, é fundamental que o agronegócio esteja preparado, com os instrumentos corretos, planejamento, estratégia e investimento em infraestrutura e pesquisa. Precisamos produzir mais na mesma terra, aumentar a produtividade. Embora alguns agricultores e pecuaristas consigam produtividades muito altas, como se observa em concursos de produtividade máxima, a média precisa melhorar. Ainda temos muitos agricultores produzindo bem menos do que poderiam. Aí entra a Extensão Rural, assistência técnica, que foi praticamente desmontada em muitos estados. Então são duas frentes a serem atacadas: melhorar a tecnologia para quem já a emprega, e fazer chegar à tecnologia aos que ainda não estão familiarizados.
 
Gargalos importantes precisarão ser ainda vencidos, como a melhoria da infraestrutura de transporte e de armazenamento, ampliação e facilitação do acesso ao financiamento de safras e seguro agrícola, entre outros.
 
Outro ponto fundamental: é urgente que o governo passe a enxergar o agronegócio como ele é – produtivo, amigo da natureza, eficiente. É imperioso que se abandone o discurso ideológico. Pequenos, médios e grandes produtores, cada um tem seu papel na produção, e não são exclusivos. É necessário que os produtores tenham segurança jurídica para investir e produzir. Quem alimenta o mundo é a agricultura convencional, mas outros métodos de produção como agricultura orgânica, biodinâmica e suas variações têm seu lugar, seu nicho de consumo, então todos os tipos de produção são importantes. 
 
Enfim, seria importante que o novo ministro da agricultura continue o bom trabalho que vem sendo desenvolvido nos últimos 20 anos. É fundamental que o ministro tenha a confiança dos produtores. Um ministério que busque novos mercados, pois não podemos depender tanto da China. Precisamos conquistar mercados mais sofisticados, e mais exigentes. 
 

Por Ciro Rosolem, membro do Conselho Científico Agro Sustentável e Professor da Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP