O casamento da agronomia com a ecologia

15 de novembro de 2022 às 11:49

Neste 15 de novembro, diz a ONU que atingimos 8 bilhões de habitantes. E a população humana continua crescendo: em 2050, devemos ser 9,7 bilhões de pessoas. Como alimentar tanta gente? Como assegurar um planeta sustentável? 
 
Por volta de 1800, a população alcançava seu 1º bilhão. Foi quando Thomas Malthus fez sua terrível profecia sobre a incapacidade de a produção de alimentos acompanhar a explosão demográfica. Sem controle populacional, dizia ele, grassaria a fome e o mundo se arrebentaria em guerras. Por comida.
 
A mais famosa predição sobre o futuro da humanidade se mostrou a mais errada de todas. Graças ao avanço tecnológico, a produção de alimentos cresceu de forma impressionante, sustentando o avanço da civilização. Por volta de 1930, dobraríamos para 2 bilhões de seres humanos. 
 
Decorridas mais 3 décadas, a população batia, nos anos de 1960, nos 3 bilhões de habitantes. Foi quando oikos começou a reclamar, originando a ecologia como disciplina científica essencial no aprendizado humano. 
 
Superada a alimentação como fator restritivo –tornando a fome um drama relativo à distribuição, e não à produção– surgiram os problemas ambientais. A pegada ecológica na Terra só fazia crescer.
 
Nessa época, mais precisamente em 1972, o Clube de Roma, auxiliado por estudiosos do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), publicou o preocupante “Limites do Crescimento”. O relatório apontava, para um cenário de ½ século adiante, um colapso civilizatório, advindo da escassez de bens naturais.
 
Outra vez, o controle populacional parecia urgente. Necessário seria também estancar a economia. Apregoada pelo Clube de Roma, a receita do futuro era o “crescimento zero”. Senão, acabariam os recursos naturais. 
 
Tal qual ocorrera com Malthus, novamente o pessimismo civilizatório seria derrotado pela história. Mais uma vez, a inteligência humana, pelas ferramentas do avanço tecnológico, iria superar a (falsa) tragédia anunciada. 
 
Assim chegamos aos 8 bilhões de habitantes. Em que pese a eterna e detestável desigualdade entre os povos e segmentos sociais, vive-se muito melhor que no passado. Basta ver a idade média das pessoas ao redor do mundo. 
 
Desafios assustadores surgem e têm sido superados. Até quando?
 
Muitos preveem, agora, o fim do mundo devido às mudanças de clima. O aquecimento planetário, causado principalmente pela queima de combustível fóssil, pelo desmatamento e geração de metano, ameaça a sustentabilidade. Ninguém poderá desdenhar da ameaça climática. A história nos ensina, porém, que a civilização ultrapassa seus desafios globais. O alerta dos cientistas, a mobilização da sociedade, e até o grito do terrorismo ecológico, instigam a inteligência humana, obrigando-a a oferecer respostas aos reptos existenciais.
 
Há uma diferença do passado. No século 21, as empresas privadas progressivamente assumiram a luta ambiental. Antes, era assunto de ecologista. Agora, a agenda ESG faz parte da competição econômica, afetando os mercados. Basta ver duas importantes propostas empresariais, originadas no Brasil, anunciadas na Conferência do Clima, a COP 27, que se realiza no Egito: 
 
       1. o roteiro assumido por 14 gigantes empresas ligadas ao agronegócio (ADM, Amaggi, Bunge, Cargill, COFCO International, Golden Agri-Resources, JBS, Louis Dreyfus Company, Marfrig, Musim Mas, Olam International, Olam Food Ingredients (OFI), Viterra e Wilmar International), visando reduzir emissões advinda de desmatamento;
 
       2. a criação da Biomas, formada pela associação de 3 bancos (Itaú/Unibanco, Santander e Rabobank) com 3 empresas (Suzano, Vale e Marfrig), destinada à restauração e conservação de florestas nativas.
 
Lula está indo participar da COP27. É um movimento positivo e que cria otimismo. Defender a Amazônia ajuda a derrubar articulações internacionais que colocam barreiras contra as exportações brasileiras.
 
Bolsonaro nunca entendeu isso. Brigou com o ambientalismo sem perceber o protagonismo atual da economia capitalista nas mudanças rumo à economia de baixo carbono. Há que se buscar sinergias entre o capital, o governo e a sociedade civil. 
 
Por outro lado, o maior erro de alguns ecologistas tradicionais tem sido considerar a agricultura como vilã dos problemas ambientais. Em consequência, tornam-se inimigos do campo. Agridem os produtores rurais. 
 
Já passou da hora dessa intriga acabar. Os modernos sistemas tecnológicos de produção no agro deixaram de ser problema e viraram solução ambiental. Aos poucos, a agropecuária moderna, sustentável e regenerativa, se impõe como dominante, deslocando a ultrapassada agricultura predatória.
 
Quem apostar nessa virada de chave, encontrará o caminho do futuro brasileiro. O Brasil tem tudo para se tornar a maior potência agroambiental do mundo. Não tenhamos ilusões. Os 8 bilhões de seres humanos na Terra demandam comida sem parar. Só que, está evidente, a pegada ecológica tem limites.
 
Chega de nós contra eles. Chega de perder tempo com estúpidas acusações. Chega de cultivar a discórdia. Chega de generalizar a exceção. É hora de promover o casamento da agronomia com a ecologia.
 


Por Xico Graziano, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)