Nas últimas décadas, a leitura e a importância da sua aprendizagem são temáticas extremamente discutidas. Em especial, após a pandemia, cada vez mais, as redes de ensino necessitam modificar suas propostas e práticas pedagógicas com o objetivo de ampliar/potencializar as habilidades de leitura e compreensão de textos dos alunos.
No final da década de 1990, com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (BRASIL, 1997), os processos de ensino e de aprendizagem da leitura passam a acontecer por meio dos gêneros textuais, explorando as suas características sociocomunicativas [finalidade comunicativa (propósito/objetivo), tema (assunto discutido), forma composicional (organização estrutural e distribuição das informações no corpo do texto) e estilo verbal (aspectos linguísticos materializados no textos)] e as suas condições de produção [autor, destinatário (público-alvo), local de publicação e suporte], como apontam Koch e Elias (2006) e Marcuschi (2010).
Em 2018, a publicação da Base Nacional Comum Curricular - BNCC (BRASIL, 2018) ampliou ainda mais a perspectiva do trabalho pedagógico com os gêneros, no que se refere ao ensino e à aprendizagem da leitura. Nessa perspectiva, tal documento sugere a realização de atividades com gêneros literários, gêneros não literários, gêneros escritos e gêneros multimodais/multissemióticos [gêneros construídos através da combinação/entrelaçamento entre a escrita verbal (palavras e frases) e elementos visuais (cores, formas, formatos, tons etc.), como aponta Dionísio (2007)]. São exemplos de gêneros multimodais ou multissemióticos: anúncios publicitários, cartuns, charges, histórias em quadrinhos, infográficos, memes, tirinhas etc.
Além disso, a BNCC (BRASIL, 2018) reforçou o ensino da leitura e compreensão de textos mediante diferentes mídias e suportes, tais como: imagens (com movimento ou não), gifs, memes, vídeos etc. O objetivo disso é fazer com que os alunos consigam compreender informações procedentes de distintas linguagens, semioses, suportes e mídias. Todas essas linguagens materializam diferentes tipos de enunciados (escritos, orais e visuais) e, consequentemente, diferentes modos de leitura.
Os processos de ensino e aprendizagem da leitura passam, então, a ter como foco fazer com que os alunos consigam se familiarizar com as características sociocomunicativas dos gêneros, além de conseguirem refletir sobre o funcionamento do gênero (SANTOS; MENDONÇA; CAVALCANTE, 2007; CAVALCANTE; MELO, 2007). Com isso, na sala de aula, as atividades de leitura e compreensão de texto não enfocam apenas a compreensão dos enunciados, mas também a exploração e a reflexão diante das características dos gêneros, a saber, a função/finalidade comunicativa, o tema, a construção composicional (a estrutura/corpo do texto) e o estilo verbal (questões/escolhas linguísticas materializadas no texto).
Nesse sentido, em resposta ao título deste artigo “Na escola de hoje, como é a leitura e o seu ensino?”, podemos dizer que, o ensino e a aprendizagem da leitura devem acontecer sempre objetivando formar leitores competentes que consigam compreender informações provenientes de diferentes gêneros, suportes e mídias. Com isso, surge a necessidade de desenvolver um trabalho pedagógico, a partir de diferentes gêneros textuais e materiais/suportes, levando os alunos a se familiarizarem com os diferentes enunciados e elementos presentes nesses materiais. O propósito disso é, principalmente, formar sujeitos que consigam usar suas habilidades de leitura e compreensão de textos nos diferentes espaços e situações cotidianas.
Por Silvio Profirio da Silva
Mestre em Linguística Aplicada pela UFPB.
Professor Formador na UFRPE (Curso de Pedagogia EAD).
Professor de Língua Portuguesa na Prefeitura de Vitória de Santo Antão.