Infelizmente, de tempo em tempo, a Nação é impactada por atos e declarações de indivíduos onde até alguns portadores de desvio de comportamento, fazem o jogo do tudo ou nada e, no mínimo, saem do anonimato (quando não sobrem na cadeia). Tivemos nesta semana, os depoimentos – à Polícia Federal e à CPMI de 8 de Janeiro, do sr. Walter Delgatti, identificado como o hacker que confessa e informa ter, a soldo da deputada Carla Zambelli e ação do ex-presidente Jair Bolsonaro, invadido sistemas informatizados da Justiça Eleitoral e contribuído para atividades onde bolsonaristas de dentro do governo teriam tentado descredibilizar o processo eleitoral. Também acusa Bolsonaro de ter atuado decididamente em busca de viabilizar um golpe de Estado. O ex-presidente nega, e os informes turbinam investigações. Também abrem-se ações nas Forças Armadas para identificar qual o tipo de relacionamento que esse indivíduo – hoje preso preventivamente – teve no âmbito dos quartéis e quem foram os seus interlocutores.
As bombásticas declarações de Delgatti lembram as do então deputado Roberto Jefferson que, em 6 de junho de 2005 denunciou o mensalão – esquema onde o governo comprava votos de parlamentares e, com isso provocou queda de ministros, processos e condenações de parlamentares e até ele próprio restou encarcerado e, depois disso, não se elegeu mais e teve outros entreveros com a lei. Aguarda-se que as afirmações do hacker seja meticulosamente investigadas para, em primeiro lugar, identificar a veracidade, os objetivos e, com base no apurado, fazer-se a justiça, tanto em relação aos denunciados quanto ao denunciante (se suas informações não se sustentarem).
O Brasil – e nenhum país – pode conviver com episódios dessa natureza sem apurá-los e promover a devida punição legal a todos os atos criminosos encontrados, independente de quem sejam os autores. Zambelli, Bolsonaro e todos os citados pelo denunciante têm de ser colocados frente à frente com ele e os relatos que os envolvem dissecados e enviados ao poder judiciário com a tipificação. Ainda mais: por uma questão de isonomia, deve ser garantido a Bolsonaro o mesmo tratamento judicial dado ao presidente Lula em relação às condenações da Operação Lava Jato. Uma mesma régua deve ser utilizada para medir a todos os denunciados ou, então, não se fará justiça. Todos têm de responder integralmente pelo que cometeram e as investigações levarem à certeza do cometimento dos ilícitos e da autoria.
Os senadores e deputados integrantes da CPMI de 8 de Janeiro e de outras comissões em andamento no Congresso Nacional e nas casas legislativas estaduais precisam ser mais discretos em seus procedimentos. Ao integrar o órgão de investigação, comparam-se a magistrados que apuram e ao final vão votar pela denuncia ou absolvição dos envolvidos. Em vez de pronunciamentos histéricos, mal humorados ou tendenciosos como temos visto nas sessões, deveriam ser serenos e só se interessar pela verdade, não pela posição partidária ou ideológica própria ou dos acusados. Espalhafatosos como têm se mostrado, não conseguem o respeito da população e, como ocorreu em passado recente, as reuniões acabam pejorativamente comparadas a espetáculos circenses. Não é para isso que as CPIs foram criadas e nem seus integrantes escolhidos pois, dessa forma, não chegarão à melhor e mais justa conclusão.
O momento hoje vivdo é apenas um ponto de passagem da grande crise política vivida pelo País. Terminada essa fase, espera-se que os congressitas, principalmente, mobilizem-se para acabar com a nefasta reeleição para cargos executivos. É por essa possibilidade de continuidade no poder que ocorrem irregularidades e até crimes como os que hoje procuram imputar ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Não houvesse reeleição, seria estapafúrdio pensar que o presidente estivesse pensando em não deixar o cargo ao final do seu mandato. Também não teríamos o caso como o de Lula que – se analisarmos bem – encontra-se no seu quinto mandato presidencial (os seus dois, os dois de sua apadrinhada Dilma Rousseff, e o iniciado em janeiro último.
Precisamos de paz, honestidade e segurança para conviver, trabalhar, progredir e promover o bem-estar da população. Jamais conseguiremos isso se permanecermos no ambiente de homens-bomba, intrigas, impunidade e desigualdade entre os cidadãos. O País precisa de mais reformas do que se imagina. A grande reforma é, sem dúvida, o fim da reeleição de presidente, governador e prefeito. No dia que ela vier, trará consigo a pacificação política...
Por
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) -
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