O conflito palestino-israelense e o Brasil no cenário internacional

16 de outubro de 2023 às 19:53

Os ataques terroristas do Hamas contra Israel provavelmente serão o marco inicial de um novo conflito estendido entre as duas partes. Nesse complexo cenário, as consequências da crise impactam o Brasil e apresentam desafios para condução da política externa brasileira. O que está em jogo não é apenas a existência de um estado Palestino e um estado Israelense, mas o equilíbrio de poder do Oriente Médio que, atualmente, tem o Irã com uma postura revisionista inflamada por questões religiosas.
 
Em termos econômicos, o Brasil é impactado pois Israel é um importante parceiro comercial do Brasil, principalmente, pela importação de fertilizantes, enquanto o Brasil exporta para Israel cereais, carne e derivados de petróleo. A balança comercial entre os dois países é deficitária para o Brasil, porém, o fertilizante oriundo de Israel é de grande importância para o agronegócio brasileiro. Considerando a questão do conflito da Rússia (outro importante exportador de fertilizantes) na Ucrânia que tem dificultado a exportação de fertilizante russo, os impactos negativos sobre a capacidade israelense de continuar suprindo a oferta de fertilizantes podem ter impactos negativos para o agronegócio brasileiro.
 
Contudo, o maior desafio que se apresenta para o Brasil é na condução da política externa em relação ao conflito. Historicamente, o país reconhece a existência do Estado Palestino desde 2010 e mantém relações diplomáticas com a Autoridade Nacional Palestina desde 1975, quando ainda era a Organização para a Libertação Palestina. A relação inclui a existência de uma embaixada da Palestina, em Brasília, e um escritório de representação brasileiro, em Ramalá. O Brasil também mantém boas relações diplomáticas com Israel.
 
A posição de bom diálogo com ambas as partes pode tornar o Brasil um importante ator no cessar das agressões e na negociação de um acordo entre as partes. Essa possibilidade é ampliada uma vez que o Brasil ocupa a Presidência rotativa do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). O Brasil convocou uma reunião dos membros desse conselho logo após o atentado e reiterou o compromisso com a solução de dois estados com fronteiras estabelecidas e reconhecidas internacionalmente e a manutenção da paz entre as partes.
 
Ademais, o Brasil não atribuiu ao Hamas a classificação de grupo terrorista, uma vez que segue a classificação multilateral da ONU. Porém, esse não reconhecimento não implica em apoio ou na impossibilidade de condenação da prática e atuação desses dois países. O governo brasileiro tem condenado a atuação do Hamas e clamado por uma solução para a libertação dos reféns mantidos pelo Hamas, em Gaza. Na última sexta-feira, dia 13 de outubro, o Brasil havia solicitado uma nova reunião do Conselho de Segurança para tratar da questão dos reféns e de um possível corredor humanitário para a população da Palestina.
 
Nesse contexto, o desafio para a política externa brasileira é, principalmente, ter uma postura firme de condenação das ações do Hamas ao mesmo tempo que mantém o apoio à solução de dois estados com fronteiras negociadas para a região. O Brasil tem a oportunidade de ser um importante ator no cessar fogo entre as partes e, para tanto, é preciso uma postura moderada e sóbria, porém firme na condenação das violações dos direitos humanos de ambas as populações.
 
Por Fernanda Brandão Martins é professora de Relações Internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.