Domingo, a virada da página na Argentina

09 de dezembro de 2023 às 18:36

Depois de uma das mais concorridas eleições de sua história, a Argentina chega ao esperado momento da posse, que ocorrerá neste domingo (10/12). O libertário Javier Milei, político de direita que desafiou o peronismo-kirchnerismo e carregou nas tintas ao criticar a esquerda e defender a direita no poder, recebe o país acossado pela inflação de 140% ao ano, e tem o compromisso de restaurar a Economia,  fazendo com que o dinheiro do cidadão volte a ser suficiente para atender suas necessidades domésticas e pessoais no intervalo entre o recebimento dos salários de um mês e de outro. P recisará de muito tato para recolocar as coisas nos devidos lugares sem que isso imponha maior escala de sofrimento ao povo que – durante os últimos governos – passou a ser subsidiado emergencialmente com auxílios públicos para completar sua renda mensal. Prometeu liquidar o Banco Central Argentino e dolarizar a Economia, mas a nação não consegue imaginar como fará isso, principalmente por não dispor de reservas de dólares.
 
A Argentina é um grande país. Já foi o mais rico do continente e perdeu essa condição por erros políticos e estratégicos cometidos em parte pelo radicalismo político. Mas, mesmo assim, ainda é forte, embora hoje necessite reequilibrar-se. O Brasil será representado na festa de posse pelo chanceler Mauro Vieira. Lula não comparecerá, mas Jair Bolsonaro já viajou a Buenos Aires à frente de um grupo de correligionários. Tanto Milei quanto Lula precisam esquecer as divergências e as brigas de campanha porque, queiram ou não, terão de se relacionar. A Argentina precisa do Brasil e o Brasil precisa da Argentina. Um está entre os principais parceiros comerciais do outro e, de quebra, ainda pilotam o Mercosul, mecanismo que tencionam usar para comerciar com o resto do mundo. Sem um mínimo de entendimento, será impossível. Ao mesmo tempo em que a França obsta o acordo da União Europeia com o Mercosul, aquele organismo acaba de firmar acordo comercial com Singapura e nada impede que o faça com a China (conforme pede o Uruguai) e com outros blocos econômicos ao redor do mundo.
 
A polarização direita-esquerda que, no passado fez sentido no desenvolvimento mundial, hoje não passa de estorvo nas regiões onde ocorre. A Argentina tem perdido muito por causa da “guerra” ideológica, que também vem destruindo a paz e até a economia do Brasil e de outros países onde ocorre como fenômeno forte. E o pior é que ainda há o inconveniente sentido de solidariedade entre os governantes de esquerda. Não dá para esquecer os investimentos que o BNDES fez em países governados pela esquerda, que acabaram sendo pagos pelo Tesouro e ensejaram até processos d a Operação Lava Jato. O mais indicado seria que cada um, vencendo a eleição, se preocupasse em governar para sua população e esquecesse as velhas teses de esquerdização (ou direitização) do continente e outros radicalismos que não se compatibilizam com o mundo de hoje.
 
É de se esperar que Milei governe a Argentina da forma mais ajuizada possível. Que Lula possa com ele conviver dentro do melhor que for para os interesses dos dois países. E que a outra pendência que hoje surge e incomoda a América do Sul – a tentativa de invasão da Venezuela ao território da Guiana – não passe da ameaça, visto que o pequeno país não está sozinho e a tentativa do vizinho arrestar suas riquezas poderá desaguar num conflito internacional de conseqüências imprevisíveis. Juízo, senhor Nicolás Maduro; não leve sua Venezuela a mais esse sofrimento! Contenha-se, senhor Lula da Silva. Evite colocar sua mão nesse cumbuca. Pare de tentar ser o pêndulo de equilíbrio de conflitos internacionais – já deu errado nas guerras Russia-Ucrânia e Israel x Hamas – e ficará muito ruim se houver um terceiro blefe com Venezuela x Guiana. Nós, brasileiros não o queremos quebrando a cabeça com problemas alheios; o preferimos usando sua força e criatividade para cumprir com o seu dever de bem governar o Brasil, pois esta é a sua real e única obrigação...
 

Por Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) - aspomilpm@terra.com.br