A Justiça reflexiva na loucura de Dom Quixote

04 de setembro de 2024 às 17:35

1 - Para alguns, Dom Quixote foi um idealista; para outros, um gênio e para muitos, um louco. E, em sua conduta, Dom Quixote rejeitava o simples real quando busca atingir ideais de que ficou impregnados pelas leituras de novelas de cavalaria. E, vendo tudo distorcido, tem à sua frente gigantes malfeitores, quando são meros moinhos em movimento; musas românticas, quando são simples prostitutas; palácios em lugar de estalagens imundas; donzelas em lugar de simples camponesas e, sempre em posto a imaginação e a realidade; o elegante e o rústico; a sensatez e a pura loucura e, assim, vai vertendo sua visão fantasiosa com a qual busca se impor com a pretensão de herói e tudo declaradamente voltado para fazer justiça e sem medo do ridículo, sem se preocupar com o riso alheio e deboche... e, em si, é a contínua busca da desejada verdade do homem na ânsia de ter, ao menos, a justiça como bem maior.
 
2 – Dom Quixote quer avançar com sua loucura num mundo sem pureza, defendendo a lealdade, o respeito e amizade.
 
3 - Seu pensamento é avançar, com sua espada, em resgate dos injustiçados e dos oprimidos, mas sua jornada acaba sendo eivada de erros, de equívocos e de muitos tropeços.
 
Por sua conduta, por seu ideal, por seu agir, ainda que cheio de loucuras, é Dom Quixote um ser humano como qualquer um, imperfeito, sonhador e ser com uma visão social de justiça sobretudo. Um anti-herói na figura de um homem comum.
 
4 - Em sua caminhada, em sua loucura e nos absurdos de seus atos, vai refletindo o inconformismo que, no fundo, existe dentro de cada um de nós, refletido no vazio do ser humano consciente envolto na observância da injustiça social.
 
5 – O que se tem, por Dom Quixote, é uma nova maneira de pensar, de extravasar sentimentos na esperança de ver sobrepujar valores do puro direito humano, ao sopro do heroísmo que lhe inspiraram novelas de cavalaria. Pensar livre, sem opressão e dentro do senso da Justiça para todos e em forma livre da convencionalidade social sem injustiça.
 
Por Renato Paula de Almeida, professor e pesquisador