A Bahia, berço de uma rica tradição literária, sedia anualmente diversas festas que atraem milhares de amantes das letras. No entanto, por trás do brilho e da efervescência desses eventos, esconde-se uma realidade pouco conhecida: a dificuldade de acesso dos escritores independentes, como protagonistas, a esses espaços.
No sentido de chamar a atenção para a questão, o escritor Valdeck Almeida de Jesus, juntamente com outros escritores baianos, criou a petição pública “Mais leituras e incentivo à cadeia completa do livro e autorias”. O documento revisita uma demanda urgente: a necessidade de maior representatividade e oportunidades para autores locais que não estão vinculados a grandes editoras, especialmente em eventos literários que contam com financiamento público.
A petição, que já reúne mais de uma centena de assinaturas, denuncia que as festas literárias muitas vezes se transformam em vitrines para autores ligados a grandes editoras, enquanto os escritores independentes são deixados à margem. As mesas de debate, palestras e sessões de autógrafos costumam ser dominadas por nomes consagrados do mercado editorial, o que limita o acesso de novos talentos a um público mais amplo. Essa falta de oportunidades para os autores independentes nas festas literárias da Bahia pode ter consequências graves para a cena cultural local. A ausência de visibilidade e de contato com o público impede que novos escritores se desenvolvam, dificultando o reconhecimento da diversidade de vozes que a literatura baiana possui.
É crucial que os organizadores desses eventos se comprometam com a inclusão de escritores independentes. A criação de espaços específicos para a divulgação de suas obras e a realização de mesas de debate com a participação de autores locais são medidas que podem garantir maior representatividade e visibilidade para esses profissionais.
Esse movimento de autores excluídos é um grito de alerta para a urgência de mudanças. A Bahia precisa acolher e promover todos os autores, independentemente de sua trajetória editorial. As festas literárias têm o potencial de se tornar um palco para a democratização da literatura e a valorização de todos os talentos, mas, para isso, a mudança precisa começar agora.
A partir de uma reunião virtual em setembro, o grupo redigiu uma carta solicitando à Secretaria de Cultura do Estado medidas para garantir maior participação de autores locais em eventos financiados pelo governo. Entre as reivindicações, estão cotas para autores baianos, aquisição de suas obras para bibliotecas públicas, editais com vagas em rodízio e espaços fixos em feiras literárias, além de acesso ao vale livro e facilitação na venda direta de suas publicações.
Por
Carlos Souza Yeshua, jornalista e mestrando em História pela Universidade de Passo Fundo – UPF -
carlos-souza@hotmail.com