"Ainda estamos aqui”, diz Lula ao lembrar ataques a Brasília

12 de janeiro de 2025 às 11:34

Dois anos depois das invasões,
presidente do Brasil evoca título do filme de
Fernanda Torres para ironizar plano golpista
e dizer que é “amante da democracia”
 
Em discurso na data que assinala os dois anos dos ataques à Praça dos Três Poderes de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, o presidente Lula da Silva fez referência ao filme Ainda Estou Aqui, que deu o Globo de Ouro à atriz brasileira Fernanda Torres. “Hoje é dia de dizer em alto e bom som: ainda estamos aqui”, afirmou, sob aplausos das autoridades presentes no Palácio do Planalto, sede do governo. “Ainda estamos aqui para dizer que estamos vivos e que a democracia está viva, ao contrário do que planeavam os golpistas de 2023. Estamos aqui para dizer: ditadura nunca mais, democracia sempre”.
 
O filme em causa, realizado por Walter Salles, com base em livro de Marcelo Rubens Paiva, conta a história da mãe do escritor, Eunice Paiva, viúva de Rubens Paiva, preso político torturado e morto durante a ditadura militar de 1964 a 1985. “Se houvesse um golpe de Estado em 2023, muitos de nós estaríamos exilados ou presos, como aconteceu no passado”, continuou.
 
Eu escapei da tentativa de atentado de um bando de irresponsáveis, de um bando de aloprados, junto com o companheiro Alckmin [vice-presidente da República, Geraldo Alckmin] e o Xandão [o juiz do Supremo e então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes]”, disse a propósito do atentado planeado, mas não executado, por militares próximos do antecessor, Jair Bolsonaro, alguns deles presos, como Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro e ministro da Defesa do governo anterior. “Deus é muito inteligente, Ele entendeu que daríamos mais trabalho aqui do que lá em cima”, rematou.
 
Lula ainda fez um histórico das vezes em que esteve para morrer. Citou o cancro, de que se curou, uma recente viagem no México, em que o avião presidencial voou por cinco horas com problemas e as cirurgias recentes para drenar um hematoma entre o osso e o cérebro a que foi submetido. De chapéu, para esconder as cicatrizes das operações, brincou: “Agora estou com a cabeça limpa e purificada, não tem brasileiro com menos sujeira que eu no cérebro”.
 
De volta ao discurso oficial, Lula disse que "participar deste evento no Planalto é dizer em alto e bom som: não é possível alguém imaginar que exista melhor forma de governança no mundo que a democracia, ela é tão boa que permitiu que um mecânico sem diploma chegasse à Presidência”. Lula acrescentou depois ser “um amante da democracia, não um marido, porque dizem que o amante ama ainda mais a mulher do que o marido”.   
 
O presidente brasileiro agradeceu no fim às Forças Armadas, presentes no evento, por “mostrar a este país que é possível construir Forças Armadas com o propósito de defender a soberania nacional”.
 
Depois do discurso, Lula desceu a rampa do Palácio do Planalto ao lado da primeira-dama Janja da Silva, e de representantes dos Três Poderes, como o senador Veneziano Vital do Rego, vice-presidente do Senado Federal, e ministros de Estado. Os presidentes do Supremo, Luís Roberto Barroso, do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, não puderam comparecer ao ato.