Os “Cientistas” do Apocalipse

16 de abril de 2025 às 18:04

O “Relógio do Juízo Final”, um símbolo icônico da ameaça à existência humana criado pelo Boletim dos Cientistas Atômicos, foi ajustado em janeiro de 2025 para marcar 89 segundos para a meia-noite – a marca mais próxima do Apocalipse desde sua criação, em 1947. Essa mudança reflete a intensificação de ameaças globais interconectadas, com destaque para o conflito na Ucrânia, que persiste pelo terceiro ano consecutivo.
 
A invasão russa da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, acentuou as tensões geopolíticas e elevou o espectro de uma guerra nuclear. A retórica beligerante de ambos os lados, aliada à modernização contínua dos arsenais nucleares, aumenta o risco de um erro de cálculo catastrófico. A possível utilização de armas nucleares táticas no campo de batalha ucraniano continua sendo uma preocupação significativa, podendo desencadear uma escalada incontrolável com consequências devastadoras para o mundo.
 
Além da ameaça nuclear direta, a guerra na Ucrânia provocou uma crise energética global, intensificada pela dependência de muitos países europeus do gás russo. Essa crise impacta negativamente a luta contra as mudanças climáticas, à medida que as nações buscam alternativas mais poluentes para garantir o suprimento energético. Os cientistas alertam que o fracasso em conter o aquecimento global representa uma ameaça sem precedente, com consequências como eventos climáticos extremos, aumento do nível do mar e deslocamento populacional em massa.
 
A desinformação e a polarização política, amplificadas pelas mídias sociais, também contribuem para a instabilidade global. A disseminação de notícias falsas e teorias da conspiração mina a confiança nas instituições e dificulta a tomada de decisões racionais diante de desafios complexos. O Boletim dos Cientistas Atômicos destaca que a propagação de fake news e desinformação estão entre os maiores riscos de 2025.
 
O Relógio do Apocalipse não é um instrumento de previsão, mas sim um chamado à ação. A humanidade ainda tem a capacidade de reverter o curso e afastar-se do abismo. O diálogo diplomático, o desarmamento nuclear, a transição para energias renováveis e o combate à desinformação são passos imprescindíveis para garantir um futuro mais seguro e sustentável. A urgência da situação exige liderança global responsável, cooperação internacional e um compromisso renovado com a paz e a segurança.
 
O tique-taque do Apocalipse ressoa como um alerta, lembrando-nos da fragilidade da civilização e da necessidade urgente de proteger o planeta. O que antes era um conceito estritamente religioso tornou-se tão iminente que agora também é monitorado pela ciência, refletindo a crescente preocupação global com o futuro da humanidade.
 

Por Carlos Souza Yeshua, jornalista e mestrando em História pela Universidade de Passo Fundo – UPF - carlos-souza@hotmail.com