Viagem ao país dos outros, um olhar estrangeiro no País
05 de outubro de 2013 às 11:32
Editoria
<img align="left" width="200" hspace="3" height="299" alt="" src="/uploads/image/img_livro_viagemaopaisdosoutros.jpg" />Três histórias, quetrazem mitos e lendas indígenas e reflexões sobre questões filosóficas, sociais e artísticas, compõem Viagem ao país dos outros, de autoria deDong Hyun Sung, lançado pela Editora Livrocerto. A obra é uma viagem literáriado autor, coreano, no país dos outros, no caso, o Brasil. <br />
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Com o prefáciode Rui Sá Silva Barros, editor e historiador, o livro traz três contos sobreculturas bem diferentes com abordagens:filosófica, social e estética. Pela perspectiva filosófica, enfoca os limites ealcances do conhecimento humano de forma consciente e inconsciente, através dosquais um homem se diferencia dos outros; em relação ao social, aborda osvalores morais dos indivíduos em diferentes grupos. Quanto à artística,investiga o ato da criação e da originalidade. Em Apanhador de sonho temospor enredo a iniciação de um xamã norte-americano; em Kaigo a história e a cosmologia de umatribo do Brasil Central; em Dr. DE uma situação de duplo exílio: umintelectual acadêmico vivendo no estrangeiro e alguém com pavor da sujeira,barulho e vulgaridade da cultura urbana das grandes metrópoles. <br />
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O escritor,coreano residente no Brasil desde os 8 anos e estreante na literatura, usa aintertextualidade e representações para criar um livro elaborado e intrigante.Cursou Direito como desafio para melhor falar a língua portuguesa e lembra quesó há 10 anos começou a sonhar em português. “<i><b>Após 15 anos de advocacia,decidi abandonar a militância, e o lançamento deste livro significa virar essapágina na minha vida. Foram quatro anos escrevendo. O conto DR. DE reescrevi 71vezes. Minha prática de escrita era jurídica</b></i>”, afirma. O autor explicaque a opção por lançar uma obra de contos, e não um romance se deu porque:“<i><b>As informações precisam ser mais curtas, resumidas. O tempo está cadavez mais acelerado e as pessoas têm pressa para tudo: querem consumir cada vezmais, viajar mais, conhecer mais. E os textos, embora tenham estrutura deromance, tentei não ultrapassar 60 laudas cada. Hoje, é difícil ver alguémlendo um Dom Quixote. Os grandes romances hoje não têm muito espaço</b></i>”,explica.<br />
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Primeiro contodo livro, Apanhador de Sonho, éuma fábula de um símbolo, onde um homem vê o seu sonho, um símbolo, fora do seusonho, uma teia emaranhada e descontinua. Após descobrir como realizá-lo -“<i><b>apanhar o sonho</b></i>”, passa a vida inteira esperando a sua realização,e isso acontece só antes da morte. Duas idéias, uma de Georg Klaus e outra deC. G. Jung, traduzem a linha de raciocínio de uma história de superação e cheiade desafios: “<i><b>Todas as formas desímbolos têm em comum o fato de não terem como causa determinante aquilo quesimbolizam. Isto os diferencia de sinais</b></i>” e “<i><b>Os símbolos jamais foram inventados; nasceramdo inconsciente, por meio da chamada revelação ou intuição</b></i>”.<br />
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Já no Kaigo, o autor escreve de formasimplificada um épico, que mistura os mitos e os fatos do povo indígenabrasileiro kayapó, desde seu surgimento até os dias atuais. O autor conheceuessa cultura quando era advogado e acompanhou a defesa do índio Paulinho Paiakan,acusado de estupro de uma mulher civilizada em 1992. Foram três anos depesquisa para entender a cultura e os valores morais deste povo. “<i><b>Todasas lendas existem, fiz uma releitura sem alterar os elementos básicos</b></i>”,conta Dong Hyun. “<i><b>Kaigo</b></i>” quer dizer mentira na língua dos kayapós.O narrador da história é On-ban. É um contador que com suasintroduções, que precedem os capítulos - estão em itálico, pretende preparar,esclarecer e complementar os ouvintes com outros mitos não abordados nahistória e suas opiniões e impressões sobre o que ele irá narrar no capítulo.Faz isso por meio de cantigas, canções e prosas-poéticas. É um contador com opensamento independente acerca dos fatos e mitos, com conclusões próprias sobreisso. Um narrador bem ativo e atípico, ao ponto de modificar as lendas ealterar os fatos, para criar sua fantasia sobre mitos e fatos, Kaigo.<br />
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Em DR. DE, o protagonista em solidão, é levado a uma imersão em sua consciência, complexa eatormentada, guardada no inferno do ressentimento. Há um fluxo na mente, com alinguagem que transita pelo plano existencial e inconsciente, com autoanálise eprojeções das memórias remotas, atropelada pela realidade crua e indelicada dametrópole, com suas multidões miseráveis e sua elite abastada. Na história,os “<i><b>fantasmas</b></i>” que incomodam e assombram o personagem principal são exteriorizados por um fantasma. Há notexto, principalmente, na última manifestação do fantasma, pistas paradescobrir o nome desse fantasma. Para descobri-lo, depende do conhecimento doleitor sobre a cultura clássica, em especial, mitologia grega. E os maisatentos, poderão descobrir muito mais.<br />
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Sobre o autor</b><br />
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O autor é de ascendência norte-coreana.Seus pais rumaram ao sul durante a Guerra (1950-1953). Nasceu em Seul, no dia11 de agosto de 1968 e, pela tradição familiar, seu nome seria Lak Ho Sung,porém acabou sendo registrado com o nome Dong Hyun Sung e 15 de agosto de 1968como a data de nascimento. Foi alfabetizado em coreano. Cursou oprimeiro e a metade do segundo ano do ensino fundamental em Seul, antes dechegar com a família ao Brasil no fim de 1976, de forma clandestina, através doParaguai. No Brasil, sem saber falar português, começou os seus estudos apartir do primeiro ano do então curso primário. Procurou sempre conhecer alíngua portuguesa lendo, principalmente, os clássicos da literatura mundial.Apesar da dificuldade com português, cursou e se formou em Direito em 1993. Comoadvogado, teve contato com os kayapós ao acompanhar a fase final do caso doíndio Paulinho Paiakan, que estampou a capa da revista Veja em 1992. Isso lhepermitiu conhecer a cultura deles e possibilitou escrever o conto Kaigo. Em 2009, deixou de ser advogadomilitante, e no final do mesmo ano, começou a escrever os contos que compõem Viagem ao país dos outros e também afotografar as obras do artista plástico Eduardo Srur, registrando edocumentando as intervenções urbanas dele. A foto que ilustra a capa é doautor. Viagem ao país dos outros éo primeiro livro de Dong Hyun Sung, escrito em português, composto de três doscinco contos que ele escreveu do final de 2009 a começo de 2013.<br />
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Uma viagem literária do autor, coreano, no país dos outros,Brasil.<br />
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Título: <b>Viagem aoPaís dos Outros</b><br />
Autor: <b>Dong HyunSung</b><br />
Formato: <b>16 x 23</b><br />
ISBN:978-85-99460-04-7<br />
<b>184páginas</b> / 340 gramas<br />
<b>R$29,00 </b>