A corrupção da opinião pública

13 de setembro de 2013 às 18:50

Editoria
<img align="left" hspace="3" src="/uploads/image/img_livro_corrupcaoopiniaopublica.jpg" style="width: 200px; height: 297px;" alt="" />Nesse trabalho desbravador, os professores Juarez Guimar&atilde;es e Ana Paola Amorim se manifestam pela liberdade de express&atilde;o, que, segundo eles, s&oacute; se garante com pol&iacute;ticas p&uacute;blicas regulat&oacute;rias em bases democr&aacute;ticas e pluralistas. Para os autores, &eacute; necess&aacute;rio superar a falsa oposi&ccedil;&atilde;o ao estatismo autorit&aacute;rio a partir da apologia do livre mercado das ideias. Eles argumentam que essa dicotomia n&atilde;o d&aacute; conta do problema porque quando os meios de comunica&ccedil;&atilde;o se organizam apenas pela l&oacute;gica do mercado, seguindo os preceitos dominantes de uma corrente predominante no liberalismo contempor&acirc;neo, h&aacute; corrup&ccedil;&atilde;o da opini&atilde;o p&uacute;blica e grave interdi&ccedil;&atilde;o da liberdade de express&atilde;o como um direito de todos &agrave; fala p&uacute;blica.<br /> <br /> O livro se coloca enfaticamente contra a instrumentaliza&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica e te&oacute;rica do princ&iacute;pio de liberdade de express&atilde;o para defender os interesses de um segmento social poderoso, que controla os meios de comunica&ccedil;&atilde;o. Como nas democracias mais avan&ccedil;adas, no Brasil o debate sobre a comunica&ccedil;&atilde;o &eacute; a tal ponto escamoteado que se tem dificuldade em diferenciar a liberdade de express&atilde;o da liberdade da imprensa.<br /> <br /> Juarez Guimar&atilde;es e Ana Paola Amorim aprofundam te&oacute;rica e politicamente essa diferencia&ccedil;&atilde;o, a partir de um resgate cr&iacute;tico das teorias republicanas, e desmascaram os princ&iacute;pios d&eacute;beis sobre os quais a discuss&atilde;o sobre a opini&atilde;o p&uacute;blica encontra-se pautada no Brasil e em outros pa&iacute;ses: sempre posta em simples e exclusiva oposi&ccedil;&atilde;o &agrave; censura estatal, a liberdade de express&atilde;o aparece como um fim em si mesmo e, nesse processo de autonomiza&ccedil;&atilde;o, se esvazia de seu conte&uacute;do democr&aacute;tico. Organizado em tr&ecirc;s cap&iacute;tulos, o livro &eacute; um convite a desacostumar-se de uma certa &ldquo;<i><b>pregui&ccedil;a acr&iacute;tica</b></i>&rdquo; do olhar, a ter claras as quest&otilde;es que s&atilde;o exclu&iacute;das ou desqualificadas no debate por conta de um ponto de vista previamente adotado.alt<br /> <br /> O primeiro cap&iacute;tulo, &ldquo;<i><b>A liberdade de express&atilde;o e a institui&ccedil;&atilde;o do cidad&atilde;o</b></i>&rdquo;, lan&ccedil;a m&atilde;o da linguagem da filosofia pol&iacute;tica para pensar as rela&ccedil;&otilde;es entre a liberdade de express&atilde;o e o pr&oacute;prio conceito de liberdade. O cap&iacute;tulo demonstra como o conceito de liberdade que funda a ideia de liberdade de express&atilde;o possui uma matriz hist&oacute;rica republicana. E, tendo em vista a situa&ccedil;&atilde;o do debate atual, o diagn&oacute;stico dos autores &eacute; evidente: sem uma refunda&ccedil;&atilde;o do sentido p&uacute;blico da liberdade, &eacute; o sentido mesmo da democracia que se torna historicamente incerto &ndash; e a pr&oacute;pria no&ccedil;&atilde;o de rep&uacute;blica, cada vez mais distante.<br /> <br /> Em &ldquo;Republicanismo, democracia e liberdade de express&atilde;o&rdquo;, o segundo cap&iacute;tulo, torna-se claro o reconhecimento de um mal-estar nas rela&ccedil;&otilde;es entre a democracia e os meios de comunica&ccedil;&atilde;o. Os autores identificam um &ldquo;d&eacute;ficit estrutural das teorias democr&aacute;ticas&rdquo;, que implica a aus&ecirc;ncia de conceitos que relacionem as condi&ccedil;&otilde;es da liberdade de express&atilde;o &agrave; institui&ccedil;&atilde;o do cidad&atilde;o e &agrave;s condi&ccedil;&otilde;es b&aacute;sicas e imprescind&iacute;veis ao funcionamento das institui&ccedil;&otilde;es democr&aacute;ticas. Em meio a esse v&aacute;cuo te&oacute;rico, os autores defendem um paradigma democr&aacute;tico e pluralista de regula&ccedil;&atilde;o dos meios de comunica&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> O &uacute;ltimo cap&iacute;tulo, &ldquo;<i><b>Opini&atilde;o p&uacute;blica democr&aacute;tica como base discursiva da soberania popular</b></i>&rdquo;, se dedica a uma reconstitui&ccedil;&atilde;o do conceito de opini&atilde;o p&uacute;blica. Ao apontar os limites da velha dicotomia entre express&atilde;o individual, como direito privado, e opini&atilde;o p&uacute;blica, os autores exp&otilde;em a falha estrutural do cientificismo pr&oacute;prio &agrave; tradi&ccedil;&atilde;o liberal, que anula, de in&iacute;cio, o car&aacute;ter amb&iacute;guo e mut&aacute;vel da opini&atilde;o p&uacute;blica.<br /> <br /> O resultado positivo desses apontamentos &eacute; uma concep&ccedil;&atilde;o revigorada e din&acirc;mica de opini&atilde;o p&uacute;blica como media&ccedil;&atilde;o entre a liberdade de express&atilde;o individual e a liberdade p&uacute;blica. Al&eacute;m de ser um impec&aacute;vel trabalho cr&iacute;tico, o livro apresenta tamb&eacute;m as condi&ccedil;&otilde;es pol&iacute;ticas vi&aacute;veis para que se realizem as melhores condi&ccedil;&otilde;es de uma opini&atilde;o p&uacute;blica democr&aacute;tica, a partir de um sistema p&uacute;blico de comunica&ccedil;&otilde;es, da regula&ccedil;&atilde;o democr&aacute;tica que preserve e garanta a liberdade de express&atilde;o como direito p&uacute;blico e o exerc&iacute;cio pluralista no plano social, levando em contas as perspectivas de g&ecirc;nero e multietnia do direito de voz.<br /> <b><br /> Trechos do livro</b><br /> <br /> &ldquo;<i><b>O direito p&uacute;blico de falar e ser ouvido, s&iacute;ntese do que &eacute; a liberdade de express&atilde;o, s&oacute; pode alcan&ccedil;ar plenitude em um conceito multidimensional de liberdade que enra&iacute;za a autonomia do sujeito da voz ao princ&iacute;pio do autogoverno. Da&iacute; o diagn&oacute;stico de que a pr&oacute;pria liberdade e a liberdade de express&atilde;o, reinterpretadas nas &uacute;ltimas d&eacute;cadas do s&eacute;culo XX de forma radical e unilateral por teorias liberais conservadoras, precisam passar por toda uma &eacute;poca hist&oacute;rica de refunda&ccedil;&atilde;o de seu sentido p&uacute;blico. Sem isso, &eacute; o sentido mesmo da democracia que se torna historicamente incerto &ndash; e a pr&oacute;pria no&ccedil;&atilde;o de rep&uacute;blica, cada vez mais distante</b></i>&rdquo;.<br /> <br /> &ldquo;<i><b>Houve &eacute;pocas em que a forma&ccedil;&atilde;o da opini&atilde;o p&uacute;blica livre encontrava seu principal opositor na figura do Estado repressivo, censor, que, em suas formas extremas, totalit&aacute;rias, absorvia o processo de forma&ccedil;&atilde;o da opini&atilde;o em um sistema estatal onicompreensivo de comunica&ccedil;&atilde;o. Na cena contempor&acirc;nea, contudo, o grande obst&aacute;culo para a forma&ccedil;&atilde;o de uma opini&atilde;o p&uacute;blica democr&aacute;tica parece ser o processo mesmo de privatiza&ccedil;&atilde;o dos sistemas de comunica&ccedil;&atilde;o, isto &eacute;, sua mercantiliza&ccedil;&atilde;o e concentra&ccedil;&atilde;o em grandes empresas, que por sua vez passam a controlar agendas, a legitimar interesses corporativos e a restringir drasticamente o pluralismo de informa&ccedil;&atilde;o e opini&atilde;o, tornando olig&aacute;rquico o direito &agrave; voz que deveria ser p&uacute;blico. Na linguagem do republicanismo em defesa da liberdade de express&atilde;o constru&iacute;da neste livro, tais fen&ocirc;menos de privatiza&ccedil;&atilde;o s&atilde;o coerentemente chamados de corrup&ccedil;&atilde;o da opini&atilde;o p&uacute;blica</b></i>&rdquo;.<br /> <br /> <b>Sobre os autores</b><br /> <br /> <b>Juarez Guimar&atilde;es</b> &eacute; professor de Ci&ecirc;ncia Pol&iacute;tica da Universidade Federal de Minas Gerais e autor, entre outros livros, de Democracia e marxismo. Cr&iacute;tica &agrave; raz&atilde;o liberal (Xam&atilde;, 1998) e A esperan&ccedil;a cr&iacute;tica (Scriptum, 2007). Entre outros livros recentes, organizou Leituras cr&iacute;ticas sobre Maria da Concei&ccedil;&atilde;o Tavares (Perseu Abramo, UFMG, 2010) e Raymundo Faoro e o Brasil (Perseu Abramo, 2009).<br /> <br /> <b>Ana Paola Amorim</b> &eacute; professora do curso de Jornalismo da Universidade Fumec (Belo Horizonte, MG). Graduada em Comunica&ccedil;&atilde;o Social, &eacute; doutora em Ci&ecirc;ncia Pol&iacute;tica e autora do livro Transpar&ecirc;ncia e Opacidade: o Siafi no acesso &agrave; informa&ccedil;&atilde;o or&ccedil;ament&aacute;ria (Annablume, 2003).<br /> <br /> <b>Ficha t&eacute;cnica:</b><br /> T&iacute;tulo: <b>A corrup&ccedil;&atilde;o da opini&atilde;o p&uacute;blica</b><br /> Subt&iacute;tulo: Uma defesa republicana da liberdade de express&atilde;o<br /> Autor(a): Juarez Guimar&atilde;es e Ana Paola Amorim<br /> Pref&aacute;cio: Ven&iacute;cio A. de Lima<br /> Posf&aacute;cio /Quarta capa: Ven&iacute;cio A. de Lima<br /> P&aacute;ginas: 144<br /> Ano: 2013<br /> Pre&ccedil;o: R$ 30,00