DICIONÁRIO DA ESCRAVIDÃO E LIBERDADE

03 de maio de 2018 às 15:21

Editoria
<img src="/uploads/image/livros_dicionario-da-escravidao-e-liberdade.jpg" width="200" hspace="3" height="297" align="left" alt="" /><span style="background-color: rgb(255, 255, 153);"><i><b>Cinquenta verbetes escritos por grandes especialistas e que comp&otilde;em um panorama abrangente de como a escravid&atilde;o se enraizou perversamente em nosso cotidiano.</b></i></span><br /> <br /> No dia 13 de maio de 1888, depois de mais de tr&ecirc;s s&eacute;culos de escravid&atilde;o no Brasil, chegava ao fim um dos cap&iacute;tulos mais cru&eacute;is da hist&oacute;ria nacional e que deixou marcas pesadas na constitui&ccedil;&atilde;o do pa&iacute;s como na&ccedil;&atilde;o. As primeiras levas de africanos chegaram &agrave; ent&atilde;o maior col&ocirc;nia portuguesa do eixo Atl&acirc;ntico em 1550 e as &uacute;ltimas desembarcaram na d&eacute;cada de 1860, alcan&ccedil;ando um total estimado de 4,8 milh&otilde;es de pessoas por aqui desembarcados. O Brasil recebeu entre 38 a 43% do total de africanos que sa&iacute;ram for&ccedil;adamente do seu continente. Mas o sistema ainda tardaria mais de trinta anos. O pa&iacute;s n&atilde;o foi s&oacute; o &uacute;ltimo a libertar os africanos e seus descendentes nas Am&eacute;ricas, al&eacute;m de ter adotado o modelo de trabalho escravo em todo o seu territ&oacute;rio.<br /> &nbsp;<br /> Neste ano, quando se completam 130 anos da aboli&ccedil;&atilde;o no Brasil, Lilia Moritz Schwarcz &ndash; professora titular de Antropologia da USP e Global Scholar na Universidade de Princeton, al&eacute;m de autora, entre outros, de O espet&aacute;culo das ra&ccedil;as, Brasil: uma biografia e Lima Barreto: triste vision&aacute;rio &ndash; e Fl&aacute;vio dos Santos Gomes &ndash; professor da UFRJ e autor, entre outros, de Mocambos e quilombos; De olho em Zumbi dos Palmares; O aluf&aacute; Rufino &ndash; lan&ccedil;am pela Companhia das Letras o livro Dicion&aacute;rio da escravid&atilde;o e liberdade: 50 textos cr&iacute;ticos. O volume organizado pela dupla de acad&ecirc;micos &eacute; um trabalho ambicioso e dos mais completos da atualidade sobre a escravid&atilde;o no Brasil, ou, como escreve Alberto da Costa e Silva no pref&aacute;cio do livro, a obra &ldquo;<b><i>mostra a grande quantidade de faces que comp&otilde;em o que &eacute; um poliedro em movimento</i></b>&rdquo;.<br /> &nbsp;<br /> Com o formato de dicion&aacute;rio tem&aacute;tico, o livro re&uacute;ne 50 verbetes escritos pelos principais especialistas do tema em atua&ccedil;&atilde;o no pa&iacute;s e no exterior, sempre de forma acess&iacute;vel ao grande p&uacute;blico. Eles abrangem temas que v&atilde;o desde as charqueadas no Rio Grande do Sul at&eacute; os Quilombos na Amaz&ocirc;nia, passando pelas principais regi&otilde;es da &Aacute;frica de onde partiram os escravizados que se dirigiram ao Brasil. Assuntos como casamento entre escravizados, leis, castigos, mulheres e crian&ccedil;as, amas de leite, tr&aacute;fico, can&ccedil;&otilde;es, economia, emancipa&ccedil;&otilde;es, escravid&atilde;o ind&iacute;gena, Frente Negra, Imprensa negra, Irmandades, educa&ccedil;&atilde;o, morte e ritos f&uacute;nebres, rebeli&otilde;es, quilombos e revoltas fazem deste dicion&aacute;rio um panorama abrangente sobre o sistema respons&aacute;vel pela desigualdade social ainda existente no pa&iacute;s. O dicion&aacute;rio tamb&eacute;m revela porque essa &eacute; uma das &aacute;reas do conhecimento hist&oacute;rico, antropol&oacute;gico e sociol&oacute;gico que obteve maiores avan&ccedil;os nas &uacute;ltimas d&eacute;cadas, sendo reconhecida nacional e internacionalmente. <br /> &nbsp;<br /> Al&eacute;m da organiza&ccedil;&atilde;o do livro, Lilia e Fl&aacute;vio assinam juntos os verbetes &ldquo;<b><i>Amaz&ocirc;nia escravista</i></b>&rdquo; e &ldquo;<b><i>Ind&iacute;genas e africanos</i></b>&rdquo;. Lilia analisa no verbete chamado &ldquo;<b><i>Teorias raciais</i></b>&rdquo; os modelos deterministas raciais que entraram em grande voga no Brasil em finais do s&eacute;culo XIX, perpetuando, a partir do conceito de degenera&ccedil;&atilde;o, no&ccedil;&otilde;es como inferioridade e superioridade racial. Fl&aacute;vio, por sua vez, investiga em &ldquo;<b><i>Quilombos/Remanescentes de quilombos</i></b>&rdquo; as formas de resist&ecirc;ncia que vigoram no Brasil, por meio de fugas individuais e coletivas e o estabelecimento de comunidades de fugitivos. O professor destaca a diversidade da estrutura social e econ&ocirc;mica dos quilombos e retrata a opress&atilde;o do estado para aniquilar qualquer express&atilde;o de rebeldia.<br /> &nbsp;<br /> Os demais verbetes proporcionam ao leitor uma compreens&atilde;o ampla da intrincada realidade escravista brasileira, dada a sua extens&atilde;o temporal e geogr&aacute;fica. A partir de an&aacute;lises do ponto de vista social, econ&ocirc;mico, pol&iacute;tico e tamb&eacute;m jur&iacute;dico, revelam as hist&oacute;rias dos primeiros africanos a entrar no Brasil quinhentista, muitas vezes negligenciadas pela historiografia. Buscam tamb&eacute;m identificar a multiplicidade &eacute;tnica dos africanos que povoaram o territ&oacute;rio, incluindo reinos da &Aacute;frica central, ocidental e oriental.&nbsp; Mostram ainda como se desenvolveu uma conviv&ecirc;ncia inesperada entre africanos e ind&iacute;genas. <br /> &nbsp;<br /> O dicion&aacute;rio tamb&eacute;m distingue as adapta&ccedil;&otilde;es do modelo de produ&ccedil;&atilde;o escravista de acordo com a regi&atilde;o geogr&aacute;fica e os ciclos econ&ocirc;micos da cana-de-a&ccedil;&uacute;car, algod&atilde;o, minera&ccedil;&atilde;o, agropecu&aacute;ria e do caf&eacute;. E retrata, por fim, a realidade espec&iacute;fica da escravid&atilde;o urbana em contraste com a rural, incluindo textos sobre as manifesta&ccedil;&otilde;es culturais que ajudaram a constituir a cultural nacional. O aspecto legal &eacute; esmiu&ccedil;ado em verbetes como &ldquo;<b><i>Castigos f&iacute;sicos e legisla&ccedil;&atilde;o</i></b>&rdquo;, &ldquo;<b><i>C&oacute;digo penal escravista e Estado</i></b>&rdquo;, &ldquo;<b><i>Crian&ccedil;as/Ventre livre</i></b>&rdquo;, &ldquo;<b><i>Legisla&ccedil;&atilde;o emancipacionista, 1871 e 1885</i></b>&rdquo; e &ldquo;<b><i>Lei de 1831</i></b>&rdquo;. O livro conta ainda, e ao final, com uma vasta cronologia que n&atilde;o se restringe ao Brasil, mas inclui todo esse eixo afro-atl&acirc;ntico, formado pela maior di&aacute;spora humana que a era moderna conheceu.&nbsp; <br /> &nbsp;<br /> Vale a pena destacar tamb&eacute;m a minuciosa pesquisa iconogr&aacute;fica que comp&otilde;e a edi&ccedil;&atilde;o. Segundo Lilia Moritz Schwarcz, o caderno de imagens prop&otilde;e estabelecer um di&aacute;logo com os verbetes, permitindo uma leitura cr&iacute;tica da iconografia que cercou a escravid&atilde;o. &ldquo;<b><i>&Eacute; preciso confiar nesta iconografia e, ao mesmo tempo, dela desconfiar</i></b>&rdquo;, pondera Lilia para logo adiante acrescentar &ldquo;r<b><i>epresenta&ccedil;&otilde;es visuais t&ecirc;m a capacidade de copiar a realidade, mas tamb&eacute;m de produzi-la</i></b>&rdquo;. A pr&oacute;pria imagem de capa criada pelo artista Jaime Lauriano, quando desdobrada, se transforma em um p&ocirc;ster que configura a dor da escravid&atilde;o e a luta pela liberdade das popula&ccedil;&otilde;es afrodescendentes.<br /> &nbsp;<br /> A import&acirc;ncia do Dicion&aacute;rio n&atilde;o se restringe ao passado. Depois de 130 anos da aboli&ccedil;&atilde;o, o racismo continua estrutural no pa&iacute;s, moldando rela&ccedil;&otilde;es e se perpetuando na viol&ecirc;ncia e na desigualdade que t&ecirc;m na cor da pele um fator determinante.<br /> &nbsp;<br /> <b>Organiza&ccedil;&atilde;o:</b> Lilia Moritz Schwarcz e Fl&aacute;vio dos Santos Gomes<br /> <br /> <b>Pref&aacute;cio:</b> Alberto da Costa e Silva.<br /> <br /> <b>Autores dos verbetes:</b> Lilia Moritz Schwarcz, Fl&aacute;vio dos Santos Gomes, Roquinaldo Ferreira, Luiz Felipe de Alencastro, Robert W. Slenes, Beatriz Gallotti Mamigonian, Luis Nicolau Par&eacute;s, Edward A. Alpers, Eduardo Fran&ccedil;a Paiva, Lorena F&eacute;res da Silva Telles, Petr&ocirc;nio Domingues, Ricardo Salles, Martha Abreu, Ant&ocirc;nio Liberac Cardoso Sim&otilde;es Pires, Carlos Eug&ecirc;nio L&iacute;bano Soares, Keila Grinberg, Jonas Moreira Vargas, Paulo Roberto Staudt Moreira, Marcus J. M. de Carvalho, Hebe Mattos, Mar&iacute;lia B. A. Ariza, Lu&iacute;s Cl&aacute;udio Pereira Symanski, Herbert S. Klein, T&acirc;nia Salgado Pimenta, Rafael de Bivar Marquese, Maria Clara S. Carneiro Sampaio, Stuart B. Schwartz, Isabel Cristina Ferreira dos Reis, Carlos Eduardo Moreira de Ara&uacute;jo, Mar&iacute;a Ver&oacute;nica Secreto, Lucilene Reginaldo, Joseli Maria Nunes Mendon&ccedil;a, Maria Cristina Cortez Wissenbach, Sidney Chalhoub, Robson Lu&iacute;s Machado Martins, Douglas Cole Libby, Cl&aacute;udia Rodrigues, Wlamyra Albuquerque, Maria Helena Pereira Toledo Machado, Jaime Rodrigues, Walter Fraga, Angela Alonso, Luciana Brito, Jo&atilde;o Jos&eacute; Reis, Marcelo Mac Cord, Rob&eacute;rio S. Souza.<br /> <b>&nbsp;<br /> LILIA MORITZ SCHWARCZ </b>&eacute; professora titular no Departamento de Antropologia da USP e Global Scholar na Universidade de Princeton. &Eacute; autora de, entre outros livros, O espet&aacute;culo das ra&ccedil;as (Companhia das Letras, 1993, e Farrar Strauss &amp; Giroux, 1999), As barbas do imperador (1998, pr&ecirc;mio Jabuti/Livro do Ano, e Farrar Strauss &amp; Giroux, 2004), O sol do Brasil (2008, pr&ecirc;mio Jabuti/Biografia 2009), Brasil: Uma biografia (com Heloisa Murgel Starling; Companhia das Letras, 2015, indicado ao pr&ecirc;mio Jabuti/Ci&ecirc;ncias Humanas) e Lima Barreto: Triste vision&aacute;rio (Companhia das Letras, 2017). <br /> &nbsp;<br /> <b>FL&Aacute;VIO DOS SANTOS GOMES</b> &eacute; professor da UFRJ, atuando tamb&eacute;m nos programas de p&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o em hist&oacute;ria comparada (UFRJ) e hist&oacute;ria (UFBa). Foi agraciado duas vezes com o Premio Literario Casa de las Am&eacute;ricas, do Instituto Casa de las Am&eacute;ricas (Cuba), sendo men&ccedil;&atilde;o honrosa em 2006 (pelo livro A hidra e os p&acirc;ntanos) e o vencedor em 2011 (pelo livro O aluf&aacute; Rufino, em coautoria com Jo&atilde;o Jos&eacute; Reis e Marcus Joaquim de Carvalho). Tem publicado dezenas de livros, colet&acirc;neas e artigos em peri&oacute;dicos nacionais e estrangeiros, atuando na &aacute;rea de Brasil colonial e p&oacute;s-colonial, escravid&atilde;o, Amaz&ocirc;nia, fronteiras e campesinato negro.<br /> <br /> <div style="margin-left: 40px;"><b>DICION&Aacute;RIO DA ESCRAVID&Atilde;O E LIBERDADE</b><br /> 50 textos cr&iacute;ticos<br /> <b>Lilia Moritz Schwarcz</b> e <b>Fl&aacute;vio Gomes</b><br /> P&aacute;ginas: <b>496</b><br /> Tiragem: <b>6 mil</b><br /> Pre&ccedil;o:<b> R$ 74,90</b><br /> e-book: <b>R$ 39,90</b><br /> Lan&ccedil;amento:11/05/2018<br /> <b>Palavras-chave: </b>escravid&atilde;o; aboli&ccedil;&atilde;o; liberdade; movimento negro; hist&oacute;ria do Brasil; resist&ecirc;ncia; racismo; desigualdade social; dicion&aacute;rio; antropologia; sociologia.</div> <br /> Por Manuela Muzachio<br /> Da Assessoria de Imprensa <br />