Tu vens (democracia) eu já escuto os teus sinais

28 de setembro de 2022 às 19:35

pauta livre
No dia 02 de outubro de 2022, O Brasil terá a grande oportunidade de manter viva e forte a nossa democracia. Todos lembram que o golpe civil-militar de 1964, instaurou a ditadura até 1985 e durante 21 anos, todo tipo de abuso aos direitos humanos foi cometido.
 

Foto: Internet/Google/Divulgação
 
A ditadura assassinou 191, deixou 243 desaparecidos ou seja; 434 pessoas mortas e um total de 20 mil pessoas torturadas, de acordo com organização internacional não governamental de direitos humanos, a Human Rights Watch.
 
Esse horror que marca a nossa recente história do século XX, deixou um rastro de dor na nossa sociedade. O movimento Diretas Já que mobilizou milhões de pessoas, mas não conseguiu aprovar as eleições em 1984, proporcionou a eleição indireta de Tancredo Neves que faleceu antes de começar a governar e fez José Sarney (1985-1990), o governo de transição (com todas as ressalvas) que no caminho teve a aprovação da Constituição de 1988 e a primeira e histórica eleição direta para presidente da república em 1989 com Collor e Luís Inácio Lula da Silva, indo para o segundo turno. Nesse momento, a democracia começava a respirar livremente. 
 
Passados trinta e três anos, muita coisa aconteceu, mas nos últimos tempos de 2013 até os nossos dias, o país tem presenciado um conjunto de acontecimentos que em tese pretendia “passar a limpo o Brasil”, mas revelou o crescimento de um sentimento autoritário de tentativa de retorno à ditadura. Desde as manifestações pelo Passe Livre em 2013, passando pelos protestos contra a Copa do Mundo 2014 e o golpe político-econômico-parlamentar, já comprovado, contra a presidenta Dilma Rousseff, podemos detectar grupos de manifestantes pedindo intervenção militar e a volta do AI-5, que são crimes previstos na Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83), na Lei dos Crimes de Responsabilidade (Lei 1.079/50) e no próprio Código Penal (artigo 287).
 
Diante desse pequeno recorte histórico, apenas para lembrar a desumanidade que foi o período ditatorial, temos nessa eleição que se aproxima um papel fundamental para afirmar a importância da democracia, pois não podemos retroceder, o Brasil não pode voltar para o atraso da tortura, do desaparecimento por motivação política, da censura e da violência como forma de governo. 
 
A escolha deste domingo 02 de outubro é muito séria, pois será um plebiscito entre democracia x autoritarismo. O campo democrático é conhecido por sua luta pela vida, pela liberdade, pelo direito de greve e organização política dos trabalhadores, pela luta dos movimentos sociais nas suas especificidades ambientais e identitárias no contexto da contradição entre o capital X trabalho. O campo autoritário são os apoiadores, seguidores e filhotes da ditadura, defendem as armas, a violência e sempre buscam o controle social e uma sociedade de pensamento único. 
 
O voto na democracia é a escolha pela paz, pelo diálogo entre várias concepções de mundo, o voto no autoritarismo é a escolha pelo estado de guerra e ódio constante ao outro, o não reconhecimento da alteridade, pelo que o outro é, o que importa para o autoritarismo é a imposição da sua vontade, da sua forma de ver a vida, o outro e sua história desaparece para essa gente. 
 
O voto na democracia quer buscar a reconciliação do país e esse acontecimento pode resultar no grande desafio do processo civilizatório brasileiro que é consolidar o nosso sentido de Nação tão discutido e refletido por Sérgio Buarque de Holanda, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Anísio Teixeira, Lélia Gonzalez, Florestan Fernandes, Paulo Freire, Edgard Santos, Abdias do Nascimento, Luiza Bairros, Gey Espinheira, Milton Santos e ainda por Maria da Conceição Tavares, Kabengele Munanga, Ailton Krenak, Cacique Raoni, Sonia Guajajara, Marilena Chauí, Jessé Souza, Silvio de Almeida, Conceição Evaristo, Gilberto Gil, Itamar Vieira Junior e outras e outros sujeitos que tentaram e tentam entender o Brasil profundo, na sua raiz, no seu caule para desabrochar a potência dessa “terra mais garrida”, que clama por “mais amores” e pelo não ao ódio.
 
Tu vens (democracia), nós já escutamos teus sinais e um espectro ronda o Brasil – o espectro da democracia. E parafraseando Caetano Veloso quando fala na introdução da música Carcará, composição de João do Vale, que foi fundamental para derrotar a ditadura: “É engraçado a força que as coisas parecem ter quando elas precisam acontecer. Dia 02 de outubro é dia de vitória da democracia. “Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais!”. 
 
Por Ivandilson Miranda Silva. Graduado em Filosofia Pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), Especialista em Metodologia do Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação Pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Mestre em Cultura e Sociedade pelo Instituto de Humanidades, Artes e Ciências professor Milton Santos (IHAC-UFBA), Doutor em Educação e Contemporaneidade pela UNEB. Professor de Humanidades na Faculdade Anhanguera Salvador e no Centro Universitário Social da Bahia (UNISBA).