Maioria dos brasileiros considera o Brasil um país racista, aponta Datafolha

20 de novembro de 2024 às 17:21

notícias/brasil 247
Uma pesquisa recente do Datafolha, divulgada pela Folha de S. Paulo, revela que a maioria dos brasileiros acredita que o país ainda é profundamente racista. Conforme os dados, 59% dos entrevistados afirmam que a maior parte da população discrimina negros pela cor da pele, e outros 5% acreditam que todos são racistas. Entre as mulheres, a percepção é ainda mais acentuada, com 74% apontando para a prevalência do racismo, em comparação a 53% dos homens.
 

Ato contra o racismo
(Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)
 
Para 59%, a maior parte da população
discrimina negros pela cor da pele, e outros 5%
acreditam que todos são racistas
 
A pesquisa ouviu 2.004 pessoas em 113 municípios brasileiros entre os dias 5 e 7 de novembro, com margem de erro de até dois pontos percentuais para o total da amostra, cinco pontos para pretos, quatro pontos para brancos e três para pardos.
 
Os dados também indicam que 45% dos entrevistados acreditam que o racismo aumentou nos últimos anos, enquanto 35% afirmam que a discriminação se manteve igual e 20% percebem uma redução. Entre a população preta, 54% consideram que o racismo cresceu, percentual significativamente maior que o registrado entre brancos (37%).
 
Racismo estrutural e a desmistificação da "democracia racial" - A percepção de que o racismo é mais presente nas atitudes individuais do que nas instituições, compartilhada por 56% dos entrevistados, revela um desafio de compreensão do racismo estrutural. Apenas 27% enxergam a discriminação racial como predominante nas estruturas institucionais, como governos e empresas, e 13% acreditam que ela se manifesta de maneira igual em ambas as esferas.
 
Para Flávio Gomes, professor da UFRJ, o aumento da percepção do racismo reflete tanto avanços nos mecanismos de denúncia quanto o trabalho contínuo dos movimentos negros em desconstruir narrativas históricas. "Atualmente, mesmo os setores conservadores que não consideram que a desigualdade passe pelo racismo não conseguem admitir a inexistência dele", diz o historiador.
 
A pesquisadora Flavia Rios, da UFF e do Afro Cebrap, destaca que o reconhecimento do racismo é fundamental para a formulação de políticas de enfrentamento. "Não se trata de fazer a população reconhecer que o racismo existe, se trata de, junto com a população, pensar quais são as formas, quais são as possibilidades de superação dessa realidade racista".
 
Debate racial enfraquece mito da "democracia racial" - O aumento do debate racial também impacta teorias como a da "democracia racial", criticada por especialistas por mascarar desigualdades. Segundo a professora Ynaê Lopes dos Santos, da UFF, essa ideia, sustentada historicamente pelas elites, 'criou uma narrativa falaciosa de que não há racismo no Brasil'.
 
Ainda assim, para muitos, é difícil compreender o racismo como um sistema de poder. A discriminação racial não é apenas um comportamento individual, mas uma estrutura que permeia instituições públicas e privadas, afirma Santos. Flavia Rios complementa que o racismo institucional, apesar de menos reconhecido, molda práticas como abordagens policiais e discriminações no mercado de trabalho. "As pessoas, quando são interpeladas, seja por um agente civil, seja por um trabalhador que está numa instituição, elas interpretam, mais concretamente, mais factualmente, que aquela é a crença da pessoa que está ali", diz a pesquisadora. "Foi discriminado no shopping center pelo segurança? Como se aquela posição fosse exclusivamente uma crença específica do segurança, e não uma orientação, uma formação que ele teve de quem abordar".
 
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