Cuidar da microbiota pode ajudar a combater a fragilidade entre idosos

06 de dezembro de 2024 às 17:43

saúde/agência einstein
Há algumas décadas na mira da ciência, a microbiota intestinal coleciona evidências de sua relação com a imunidade, o bem-estar emocional e até contra a obesidade. Agora, um estudo publicado na revista científica The Journal of Clinical Investigation aponta mais um possível benefício: contribuir para a qualidade de vida dos idosos.
 

© Shutterstock/Reprodução/Agência Einstein
 
Estudo destaca fibras especiais, responsáveis
pelo equilíbrio das bactérias no intestino, como
aliadas contra distúrbios de mobilidade e
desnutrição nessa população
 
Cientistas chineses realizaram uma análise observacional de 1.693 pessoas idosas, que foram separadas em três grupos, conforme a presença ou não de fragilidade (não frágil, pré-frágil e frágil). Para a classificação consideraram características como a perda de peso, o declínio físico, a lentificação na caminhada, a diminuição da força de preensão palmar e maior exaustão. Na segunda etapa do estudo, foram avaliados aspectos biológicos e metabólicos entre as turmas, inclusive com investigações sobre a microbiota.
 
Já o terceiro estágio, consistiu em um ensaio clínico randomizado, duplo-cego. Nessa etapa, uma parte dos participantes consumiu, durante 12 semanas, um preparado de fibras especiais com ação prebiótica, ou seja, que contribuem para a proliferação e a atividade de bactérias benéficas. A outra recebeu placebo para controle e comparação ao final do estudo.
 
Após a intervenção, por meio de testes, observou-se uma melhora na velocidade de caminhada e na força das mãos entre os que ingeriram os prebióticos. Exames de fezes, de sangue, entre outros, mostraram ainda alterações benéficas na microbiota, além de redução de marcadores inflamatórios.
 
O estudo traz indícios muito promissores”, opina a nutricionista esportiva Gabriela Mieko, do Espaço Einstein de Reabilitação e Esporte do Hospital Israelita Albert Einstein. Esses achados reforçam a importância de zelar pela saúde intestinal, especialmente em uma fase da vida em que a composição da microbiota é modificada pelo uso de certos medicamentos, pela presença de doenças e por hábitos alimentares.
 
Segundo Mieko, os avanços da nutrigenômica – campo científico que avalia a interação entre os genes e os nutrientes – estariam por trás do aumento e do aprofundamento de pesquisas sobre a microbiota, mas que ainda é uma área nova. “Começa-se a compreender melhor o papel dos micro-organismos que povoam o cólon e suas inter-relações com os diversos sistemas do nosso corpo”, observa.
 
Ecossistema em equilíbrio
 
Diversos trabalhos mostram danos atrelados à disbiose, que é o desequilíbrio nas populações de bactérias, com maior concentração de bactérias patogênicas em comparação com as "do bem”. Nesse cenário, a permeabilidade do intestino acaba prejudicada, permitindo que micro-organismos nocivos viajem pela circulação, o que pode desencadear inflamações, entre outros distúrbios.
 
Apostar em um cardápio recheado de frutas, hortaliças, grãos integrais e leguminosas é uma das estratégias para manter tudo em harmonia. Tais alimentos oferecem as chamadas fibras prebióticas. “Dentro desse grupo, há os fruto-oligossacarídeos (FOS), presentes na cebola, na batata yacon, no aspargo, no tomate, entre outros”, explica a nutricionista do Einstein.
 
Destacam-se ainda os galactos-oligossacarídeos (GOS), presentes no leite, inclusive o materno. Outro exemplo é a inulina, da alcachofra e da chicória. “Também existem estudos mostrando que substâncias chamadas de flavonoides, vindas do cacau, podem ter efeitos prebióticos”, acrescenta Gabriela Mieko.
 
Por fim, soma-se à lista o psyllium. “É uma fibra natural extraída das sementes de uma planta, a Plantago ovata, e tem sido muito utilizada em estudos”, conta. Requer a orientação profissional para o consumo, já que o exagero pode causar desconfortos abdominais, como gases e constipação.
 
Outros grandes aliados da microbiota são os probióticos. Pela definição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), probióticos são “micro-organismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do indivíduo”.
 
Eles aparecem em alimentos fermentados, como iogurtes especiais, no kefir, na kombucha, entre outros. Um cuidado é o de se atentar às informações dos rótulos e privilegiar produtos com menores teores de açúcar, aditivos e com a lista de ingredientes enxuta.
 
Zelar por esse ecossistema garante a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) – butirato, acetato e propionato –, o que propicia um melhor aproveitamento de sais minerais e outros nutrientes. Essas substâncias ajudam a reduzir o risco de deficiências e também teriam ação anti-inflamatória, segundo alguns estudos.
 
Independentemente da idade, não faltam bons motivos para redobrar os cuidados e manter a microbiota intestinal sempre saudável.
 
Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein