Indústria brasileira cresce 3,4% em 2024, mas enfrenta desafios com altas taxas de juros, afirma Rafael Luchesi

21 de dezembro de 2024 às 12:51

notícias/brasil 247
O diretor de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Luchesi, concedeu entrevista à TV 247 e destacou o desempenho positivo da atividade industrial brasileira nos últimos três anos. “A indústria cresceu 3,4% em 2024, consolidando um triênio de expansão. Isso é fundamental para a geração de empregos de qualidade e para criar um ciclo de crescimento sustentável”, afirmou.
 

Rafael Luchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial
da CNI
 (Foto: CNI/Divulgação)
 
Diretor de desenvolvimento industrial da
CNI defende uma agenda de desenvolvimento
sustentável baseada na inovação e no
fortalecimento do BNDES
 
Parte desse avanço, segundo Luchesi, está vinculada a políticas como a Nova Indústria Brasil e o Plano Mais Produção, que ele defende como políticas de Estado permanentes. “Assim como o agronegócio tem o Plano Safra e a Embrapa como pilares de competitividade, a indústria precisa de instrumentos robustos, como a linha de crédito à inovação, a TR, e uma carteira estratégica do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]”, explicou.
 
Segundo ele, a política fiscal expansiva adotada neste ano foi crucial para fomentar o desenvolvimento econômico e estimular um círculo virtuoso de prosperidade. "Quando você aumenta o investimento, está contratando o crescimento futuro da economia", afirmou. Luchesi também pontuou que o desemprego brasileiro atingiu o menor nível em dez anos, o que reflete uma condição de pleno emprego no país e contribui para o bem-estar da população.
 
Apesar dos avanços, o diretor da CNI criticou a política monetária brasileira, especialmente a manutenção de taxas de juros elevadas, que considera restritivas. “O Brasil tem uma das maiores taxas de juros reais do mundo, com 11,25% na básica e 6,41% na real, acima do nível neutro calculado pelo próprio Banco Central. Isso reduz investimentos, empregos e prosperidade. Precisamos abandonar políticas que sufocam o setor produtivo e o desenvolvimento econômico”, alertou. Segundo ele, essa política onerosa para famílias e empresas prejudica a ampliação de investimentos e o crescimento do país, além de elevar o custo fiscal da gestão da dívida pública.
 
Luchesi também destacou que, mesmo com pressões inflacionárias, a previsão da CNI é de que a inflação se mantenha dentro da meta estabelecida, embora ligeiramente acima do centro. Ele ressaltou que, em comparação com a média global, a inflação brasileira ainda é relativamente baixa. Para ele, é essencial que o Brasil reduza sua dependência de uma lógica financeira que prioriza o setor bancário em detrimento da indústria. "Perdemos importantes períodos de desenvolvimento nas últimas décadas por conta dessa política de juros superapreciados", afirmou. 
 
Acordo UE-Mercosul é positivo para indústria brasileira
 
Outro ponto abordado foi o recente acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. Para Rafael Luchesi, o acordo, após 25 anos de negociações, marca um momento crucial para o Brasil e seus parceiros sul-americanos, e a consolidação desse pacto reflete a posição privilegiada do Brasil na geopolítica global, em meio a um cenário de crescente protecionismo, tensões entre Estados Unidos e China e crises climáticas e energéticas. Para Luchesi, o Brasil emerge como um parceiro estratégico de longo prazo para a União Europeia, com vantagens competitivas em duas frentes principais: segurança alimentar e transição energética. "O agro brasileiro, somado à abundância de água — 12% da água potável do planeta —, coloca o Brasil em uma posição chave, especialmente diante das emergências climáticas", afirmou. Ele também destacou o potencial da agroindústria como vetor de maior complexidade econômica e de inserção internacional no mercado de alimentos.
 
No campo da energia, Luchesi ressaltou que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com mais de 80% da energia elétrica gerada de fontes renováveis. Essa característica, aliada à competitividade em biomassa, energia solar e eólica, posiciona o país como líder na agenda de descarbonização e na produção de materiais como aço verde e cimento sustentável. "O Nordeste brasileiro, com sua vocação para energias renováveis, é um exemplo claro do potencial para atrair investimentos diretos estrangeiros", destacou.
 
No entanto, Luchesi advertiu que para que o Brasil aproveite plenamente as oportunidades do acordo UE-Mercosul, é essencial enfrentar desafios internos, como o alto "Custo Brasil" e a falta de uma política industrial robusta. Ele também apontou a necessidade de um debate nacional sobre a política monetária. "A atual taxa de juros é excessivamente alta, prejudica o setor produtivo e limita o crescimento econômico", afirmou. Segundo ele, o equilíbrio entre estabilidade macroeconômica e crescimento deve ser prioridade, com recursos direcionados ao desenvolvimento de infraestrutura, educação e saúde pública.
 
Assista à entrevista na íntegra:
 
 
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