A Embrapa recebeu na última semana um grupo de lideranças do povo Yanomami para uma imersão em conhecimentos sobre agroecologia, conservação de recursos genéticos e segurança alimentar. Entre os dias 11 e 15 de março, os participantes visitaram três unidades da instituição: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Embrapa Hortaliças e Embrapa Cerrados, como parte da programação do curso “
X Diálogos Agroecológicos com Povos Indígenas”.

Foto: Juliana Caldas
Durante a visita, os Yanomami conheceram coleções de germoplasma, especialmente de hortaliças e fruteiras, além de iniciativas agroecológicas em uma chácara no entorno de Brasília. Um dos momentos mais marcantes foi a apresentação das lideranças indígenas sobre seu território e os desafios socioambientais que enfrentam, incluindo ameaças à conservação de recursos genéticos e os impactos das políticas públicas. Sementes e materiais propagativos foram disponibilizados para serem multiplicados na Embrapa Roraima e posteriormente enviados às aldeias.
O treinamento foi promovido pela Embrapa em parceria com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN/MDS). Além de fortalecer a colaboração entre instituições, a iniciativa visa subsidiar ações do Plano de Segurança Alimentar do povo Yanomami, promovendo a integração entre saberes tradicionais e tecnologia.
A edição deste ano consolidou ainda mais a parceria entre a Embrapa Roraima e a SESAN/MDS, reforçando o compromisso com ações concretas voltadas às comunidades indígenas. Há mais de duas décadas, a Embrapa organiza esse evento como um espaço de intercâmbio entre pesquisadores e povos indígenas. Em edições anteriores, diferentes etnias, como os Krahô, Canela, Apinajé, Kayapó, Pareci e Xavante, já participaram.
Desta vez, o encontro reuniu sete guardiões de sementes da Terra Indígena Yanomami, representando distintos subgrupos étnicos. Michel Xirixana, do povo Ninam, compartilhou suas impressões sobre a experiência. “Conheci muitas coisas novas que não temos na nossa região. Por exemplo, eu achava que existia apenas um tipo de maracujá, mas descobri que há vários. Se levarmos essas sementes para nossa comunidade, acredito que também poderemos produzir”, disse.
Sobre a baunilha, ele comentou que a planta é encontrada em seu território, mas seu uso ainda é desconhecido. “A gente tem lá, mas não sabemos como usar”. O pesquisador da Embrapa Cerrados, Wanderlei Lima, especialista no tema, explicou que, apesar da grande diversidade de espécies de baunilha na América, seu cultivo e utilização ainda são pouco explorados no Brasil. “Estamos estudando suas propriedades. Quem sabe, depois dessas pesquisas, vocês poderão utilizá-la de novas formas na comunidade”, sugeriu.
Troca de Saberes
Para o pesquisador da Embrapa Cerrados e chefe de Transferência de Tecnologia da Unidade, Fábio Faleiro, parte das tecnologias desenvolvidas pela Embrapa podem ajudar os povos indígenas a buscar uma maior segurança alimentar e maior qualidade de vida em suas comunidades. “É uma honra para a Embrapa Cerrados receber as lideranças do povo Yanomami. Aqui desenvolvemos tecnologias para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável na região do Cerrado. Sabemos que é possível produzir e preservar a natureza ao mesmo tempo”, destacou.
A visita à Embrapa Cerrados foi realizada na manhã de sexta-feira (14), quando eles puderam conhecer de perto algumas tecnologias desenvolvidas no centro de pesquisa ecorregional voltado ao bioma Cerrado. Foram apresentados resultados de pesquisas voltados a culturas como maracujá, pitaya, açaí e baunilha, além de sistemas de produção integrados. “A ideia é fazer um intercâmbio de conhecimentos sobre uma agricultura eficiente, mas que respeita o meio ambiente”.
O pesquisador Tadeu Graciolli destacou a relevância desse intercâmbio. “Essa aproximação com os povos originários é muito rica”, afirmou. Ele apresentou o sistema que integra o cultivo do baru com o café em consórcios irrigados. “O baru, que produz uma castanha de alto valor comercial, demora muito para frutificar na natureza. Por isso, trabalhamos com sistemas integrados, nos quais uma planta favorece a outra”, explicou.
A pesquisadora Terezinha Dias, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, coordenadora do curso, reforçou a importância da experiência. “Algumas das técnicas que vocês estão conhecendo poderão ser aplicadas em suas comunidades, outras talvez não. Esse olhar crítico de cada um é fundamental”, pontuou.
Acompanhando o grupo, o pesquisador da Embrapa Roraima Haron Xaud destacou que o curso integra um projeto de pesquisa da unidade sobre o banco de sementes tradicionais Yanomami. “Nosso principal objetivo é contribuir para a segurança alimentar desse povo, melhorando a qualidade da alimentação e reduzindo os riscos de perda na colheita, sempre com sustentabilidade. Quanto mais utilizarmos materiais nativos, melhores serão os resultados”, concluiu Xaud.
Núcleo de Comunicação Organizacional - NCO Embrapa Cerrados