O ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), tentou justificar no dia de ontem, quinta-feira (20) uma declaração de cunho xenofóbico feita contra o povo baiano durante sessão do tribunal. Em vez de admitir o erro, Noronha adotou postura defensiva, alegando que suas palavras foram mal interpretadas e afirmando que "
a maldade está muito mais em quem ouve do que em quem fala". As informações são do site
Se Ligue Bahia.

Ministro João Otávio de Noronha (Foto: Paulo Emílio)
Em vez de admitir o erro, ministro do STJ culpa imprensa e público por “maldade” e chama o governador da Bahia, que reagiu à fala, de “mal informado” |
A fala original, feita na última terça-feira (18), repercutiu negativamente nas redes sociais e provocou nota oficial de repúdio do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT). A polêmica surgiu quando Noronha comentou a fala do colega Raul Araújo, que havia se machucado durante uma partida de basquete. O ministro afirmou: “Dizem que o baiano é tão ágil, tão ágil, que quando joga basquete e ele arremessa a bola na cesta, ela só cai no sábado”. A piada, no entanto, não teve relação com os envolvidos na discussão, já que Araújo é cearense, natural de Fortaleza, e Noronha é mineiro, nascido em Três Corações (MG).
Noronha, no entanto, insistiu em desqualificar a reação pública: “Eu brinquei, ainda é uma brincadeira o baiano, mas a vida nos mostra que a maldade está muito mais em quem ouve do que em quem fala. A maldade está em quem quer interpretar, criando notícia e desvirtuando”, afirmou.
Sem reconhecer o peso de sua declaração, o magistrado tentou suavizar o episódio dizendo que se tratava de uma lembrança dos tempos em que “brincar” era socialmente aceito no ambiente do Judiciário. “Saudade dos nossos tempos, de 20 anos atrás, que nesta côrte a gente podia brincar e brincávamos muito. E essa história, essa brincadeira com baiano, quem me contou foi um baiano”, declarou.
Durante seu pronunciamento, Noronha ainda se dirigiu diretamente ao governador da Bahia, sugerindo que Jerônimo Rodrigues teria sido “mal informado” sobre o conteúdo da fala. “Quero saudar na pessoa do governador, que certamente foi mal informado, que não viu. Porque se tivesse visto o vídeo, iria ver que não há nenhuma discriminação, pelo contrário, eu quero transmitir na pessoa dele o meu amor à Bahia, ao povo baiano, a admiração pela Bahia.”
A tentativa de transferir a responsabilidade pela repercussão àqueles que se sentiram ofendidos revela uma postura que ignora o papel institucional que deveria ser exercido por um ministro de corte superior. Ao dizer que a imprensa "transformou um comentário descontraído em uma notícia de ofensa", Noronha desconsidera o impacto de seu discurso e reforça estigmas históricos associados ao povo baiano.
“Fiquei triste ao ver que a imprensa transformou um comentário descontraído em uma notícia de ofensa”, lamentou, enquanto dizia admirar a cultura do estado. “A Bahia é terra de grandes nomes da história e da cultura brasileira. Eu sempre tive um grande apreço pelo estado.”
A fala do ministro, no entanto, insere-se em um contexto mais amplo de estigmatização de regiões do país, em especial do Nordeste, frequentemente alvo de piadas discriminatórias que reproduzem preconceitos coloniais e sociais. Ao reagir com escárnio à crítica, Noronha falha em exercer o exemplo que sua função exige — não apenas em respeito à Bahia, mas à dignidade de todos os cidadãos brasileiros.
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